sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Consciência – uma batalha contra o Eu Inferior




Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari 

Há uma história dos índios norte-americanos cheroquis: um velho sábio estava explicando para sua neta sobre a batalha interior que ele esteva travando. Dizia que era entre dois lobos. Um era mau: consistia em raiva, inveja, tristeza, remorsos, avareza, arrogância, orgulho, sentimento de superioridade, auto piedade, ressentimento e rancor, sentimento de inferioridade, mentiras, orgulho, sentimentos de superioridade e egocentrismo. O outro era bom: consistia em alegria, paz, amor, esperança, serenidade, humildade, simpatia, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé. Depois de pensar um momento a neta pergunta ao avô: “E qual ganha?”
O velho sábio respondeu: “Aquele que eu alimento!”.

A verdade é que nós temos muito controle das condições que afetam nossa felicidade e estado de ser. Muitas coisas da vida estão fora de nosso controle, mas nossa atitude para com o que nos acontece faz toda a diferença. Nosso destino está escrito, mas em forma de rascunho e os detalhes dependem de nós mesmos. E são os detalhes que tornam a vida insuportável ou bonita, e, ainda mais importante, é nossa atitude e conduta baseada nessa atitude que está formando as condições, favoráveis ou não, no Além.

Há vários pontos a se considerar na história acima contada. Um é que o velho sábio se refere às emoções como lobos, isto é, entidades alheias. São negativas ou positivas, mas são para serem dominadas e não ao contrário. E como já mencionado, umas são más e outras boas.
Ainda que pareça óbvio que as emoções negativas sejam prejudiciais, são realmente as forças que conduzem a vida das pessoas em todas as partes.

De fato, o primeiro passo é a consciência, ou uma combinação de consciência e conhecimento. Isto é, o primeiro passo depois que você reconhecer que há algo mal, que há um problema. Uma vez que ficar claro que há um problema, temos que investigar as razões e as causas.
Onde está o problema? Se alguém lhe ofende, se o seu negócio fale, se o seu casamento está acabando, se lhe mandam embora do seu trabalho, se você sempre se mete em encrencas ou qualquer “tragédia” ou “calamidade” e experimenta emoções como medo, nervosismo, raiva, rancor, ou as demais emoções negativas, ou se experimenta essas emoções sem uma causa óbvia, onde está o problema? E o que provocou a reação?

A resposta a essas perguntas pode ser averiguada considerando outra. Não é verdade que se confrontando com situações idênticas, duas pessoas reagem muito diferentes ou até mesmo de maneira oposta? Um insulto não tem efeito nenhum em uma pessoa enquanto outra ficaria extremamente nervosa? Uma perda para um é o fim do mundo, ao passo que a mesma perda para outro não é uma grande coisa.

Outro exemplo de um ângulo diferente. Você está de viagem por várias semanas e durante o período em que você está ausente acontece alguma desgraça – seu (sua) parceiro (a) lhe trai, sua casa se desmorona, você perde seu trabalho, roubam o seu caso, ou o que for. Você está desfrutando da sua viagem felizmente e na sua cabeça tudo é bonito. Volta para casa e você se informa da desgraça e fica mal. Talvez o problema aconteceu há muito tempo, mas você fica mal quando se informa.

As reações tão diferentes ou tardias são prova de que o incidente “provocador” na verdade não é a causa, que de fato, os problemas residem dentro de nós mesmos. O centro emocional sente uma ameaça e seu mecanismo de defesa está se ativando de forma equivocada para “proteger” a pessoa.

A luz de Deus está presente em todos. A Energia Divina está presente em todos. Por que, então, não somos santos? Por que não nos sentimos bem por completo? Por que a vida não anda bem? É porque nós mesmos estamos interpondo obstáculos entre a presença e guia de Deus e nossa essência. Deus quer nos ajudar e nos guiar, mas acreditamos que sabemos mais. A resposta é tirar os obstáculos que nós mesmos colocamos. As emoções negativas são invasoras que arruínam a vida e nos conduzem a soluções ainda mais desastrosas. A raiva, inveja, tristeza, remorso, avareza, arrogância, auto piedade, ressentimento e rancor, sentimento de inferioridade, mentiras, orgulho, sentimento de superioridade, e egocentrismo são nossos inimigos.
Devemos ganhar a batalha contra eles.

O primeiro passo para conseguir o controle de si mesmo é o conhecimento de si mesmo – o que está acontecendo dentro? Isto requer que nos convertamos em observadores de nós mesmos, começando com as emoções negativas acima mencionadas. Para realizar este exercício é primordial que a pessoa permaneça desperta em todos os momentos. Desperta quer dizer, consciente de si mesma. Tem de estar em um estado de vigilância, como um guarda da porta da porta do castelo do rei, observando todos os que entram e cuidando para que não entrem indesejáveis. E quando algo indesejável entrar, como a raiva ou inveja, etc., devemos segui-lo, olhando para averiguar: de onde vem, o que quer e aonde vai? As emoções negativas são como ladrões trabalhando na escuridão. Se você acende a luz, se envergonham, e têm que deter suas atividades. A consciência é como acender a luz. As emoções negativas não têm razão e na plena luz do dia sua natureza verdadeira se revela e sua força desaparece.

Quanto mais poder têm as emoções negativas, menos poder o indivíduo tem. As emoções negativas são como os ditadores arruinando a vida de seus súditos. Ser súdito das emoções negativas é ser escravo. Só com conhecimento e consciência podemos nos libertar delas e encontrar a Luz Divina que está em todos, esperando que tiremos os véus de cima para que possa nos conduzir a uma vida melhor.

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