terça-feira, 28 de novembro de 2017

Sombras de sombras


Por Mohammad Abdullah Ansari

Sayyidina Hakeen Tirmidhi em seu livro Nawaadirul-Usool narra que Sayyidina Zakwaan (a.s.), um companheiro do Profeta (s.a.w.s.), disse: “Não era possível ver a sombra do Profeta (s.a.w.s.) nem no brilho do sol e nem na luz da lua”.

Em seu Masnavi, Mawlani Yalaluddin Rumi escreveu: “Não apenas o Profeta (s.a.w.s.), mas inclusive um servo ordinário que chegar à etapa de mortalidade interior (baqa), sua sombra desaparecerá, como a do Profeta”.

Este mundo é uma manifestação de Deus. Você vê o mundo assim? Este mundo toma a forma da percepção de cada um, tanto perceptiva quanto fisicamente, isto é, tangivelmente, o mundo toma a forma dos desejos e dos níveis espirituais da conglomeração das pessoas em cada parte, assim como no mundo todo. Ainda assim, mesmo que o mundo reflita o nafs/ego das pessoas comuns, muito longe do padrão projetado por Deus, um indivíduo pode chegar a ver a realidade detrás de tudo. Na verdade o mundo é amorfo e mutável. Não é tão sólido como parece. A solidez das coisas e sua rigidez dependem da condição do ego da pessoa. Quanto mais você acredita neste mundo como o fim de tudo e como a verdadeira realidade e quanto mais estiver absorto em si mesmo, menor e mais duro será o seu mundo.

O que é a religião? A verdadeira religião é a ciência – como as coisas funcionam. De fato, a ciência física não é mais do que uma extensão da ciência “espiritual”. Na verdade não há separação entre “espiritual” e não-espiritual, tudo é um. Uma ação desencadeia uma consequência tanto no mundo de energia densa, “sólido” e visível como no mundo de energia menos densa de ações, pensamentos e atitudes.

Por que o Profeta Muhammad Mustafa (a paz seja com ele) não tinha sombra? Porque não tinha ego.

O mundo muda tangivelmente por nosso estado espiritual, nossas percepções, desejos e crenças e, além de ser um obstáculo no progresso e evolução espiritual, o ego congela o mundo do indivíduo, o faz encolher, bloqueando a visão das realidades mais profundas atrás de tudo supostamente “material”. Tudo o que você vê no mundo tem só uma realidade relativa. Ver sua realidade essencial só é possível com a dominação do nafs/ego.

Abraham Abulafia (1240 – 1291), um grande cabalista disse: “A vida normal da alma está encerrada nos limites determinados por nossas percepções naturais e emocionais, e enquanto esta vida estiver plena destas, encontrará extremamente difícil perceber a existência das formas espirituais e das coisas divinas. Por conseguinte, o problema é encontrar um caminho para ajudar a alma a perceber além das formas da natureza (o mundo material) [...]; a solução é sugerida por este antigo adágio ‘quem está cheio de si mesmo não tem lugar para Deus’. Tudo aquilo que o eu natural (o ego) do homem ocupa deve ou bem desaparecer ou bem transformar-se”.

O ego é uma criação de desejos e medos, não têm uma realidade intrínseca; sua existência é alimentada pela crença neste mundo e nesta vida como fins em si, como se fossem a meta da existência. É um círculo vicioso, o ego se criou com o esquecimento do Criador durante o crescimento do indivíduo e a crença no ego como uma realidade faz a percepção do indivíduo ver o mundo cada vez mais sólido e permanente – o oposto da realidade. A realidade do mundo é um redemoinho de energia e mudanças constantes. Sintonizar com Deus por meio da lembrança constante Dele diminui a crença no nafs/ego e abre os olhos internos para ver a verdadeira realidade energética do universo e assim ver a Deus em tudo.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O materialismo


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

ABONECADO o amor pelo apetitoso aparece aos homens: as mulheres, os filhos, arcas cheias de ouro e prata, cavalos de raça, gados e terras. Nisso consiste o desfrute dessa vida – mas, a mais formosa das metas está junto a Deus. 
(Alcorão 3:14)

Normalmente este ayat do Alcorão é traduzido literalmente, ou como parece literal, que a vida depois da vida terrena será melhor do que esta vida, e, essa interpretação pode ser mais ou menos precisa, mas é uma interpretação superficial. Diz claramente que a meta ideal é Deus.

Por Deus se entende um estado de harmonia com a Energia Básica da existência e isso significa não apenas depois da morte, porém também durante a mesma vida. Todo problema, físico, mental, emocional e espiritual, tanto agora como no futuro (no Além) é o resultado de desequilíbrios, ou seja, de estar fora de harmonia de uma forma ou outra.

Materialismo quer dizer pôr fé nas coisas materiais, o que inclui família, parceiros [amorosos], mestres, símbolos, rituais, etc. (coisas perecedouras).
A pior enfermidade criada por esse tipo de materialismo, uma forma de cobiça e egocentrismo, são os transtornos emocionais de depressão, falta de esperança e apatia, resultados da equiparação do êxito material com o êxito real.

 É ignorância obstinada, isto é, a pessoa escutou a verdade uma e outra vez, mas está tão cheia de si e cega que se nega a entender, e pior, se nega a fazer o que é necessário para se recuperar de suas enfermidades emocionais causadas por sua teimosia.

O que o ayat do Alcorão diz? Este mundo não é a meta. Tudo o que vemos, “as mulheres, os filhos, as arcas cheias de ouro e prata, cavalos de raça, gados e terras”, só têm uma semi-realidade, é parte de um processo, mas vão se dissolver, se desfazer paulatinamente – ainda que em uma parte da viagem, se sua realidade essencial, sua razão, não é entendida, se converte em enganos. Então a pessoa doente de materialismo se identifica com uma irrealidade, e por não ter isto e isso, por não ser “exitoso”, sente-se um fracassado. Mesmo que Deus resida em todas essas coisas, se você se identificar apenas com a superfície material, se colocar fé no permanente, sim fracassará.

Não estamos aqui na terra para acumular coisas, não estamos aqui para ser exitosos e importantes... estamos aqui para observar, experimentar, viver, amar (não ser amado, mas amar), ser e conhecer Allah que está escondido sob a superfície de todas coisas. Em todas as tradições espirituais nos advertem contra o apego às coisas, a não sermos controlados pelo apego à materialidade. Pouca gente faz caso, nem entende.

Ainda que as práticas espirituais sejam importantes, mais importante ainda é a atitude. Deixe de querer ser importante (ter êxito), deixe de querer ser amado – deixe de ser qualquer coisa, apenas seja (exista). Ocupe-se, faça qualquer trabalho, trabalhe duro, mas se falhar, é somente outra experiência a mais, ninguém é um fracasso. O mundo está cheio de injustiça, isso não vai mudar, nós temos que nos mover através de todo o mal sem permitir que ele nos atinja.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Um todo muito maior


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

Para a pessoa normal o corpo e este mundo são tudo – sou este corpo e o que acontece neste mundo é de importância primordial. A pessoa que, por uma de várias razões, começa a duvidar disso e a sentir a realidade de uma vida e realidade além desta vida terrena, pode começar a rejeitar o corpo, a materialidade e a menosprezar esta vida. Se a pessoa continua pesquisando, estudando, fazendo práticas espirituais e/ou encontra um (a) mestre espiritual, reavaliará esta ótica e chegará a entender que este corpo, vida e mundo são sumamente importantes e são, juntos, o caminho que nos conduzirá à seguinte etapa de nossa existência. Ao ver o corpo com olhos internos vemos um lugar, não um objeto fixo restringido por tempo e espaço. E o mundo é uma escola na qual devemos aprender realidades cósmicas para passarmos para o outro lado. Não aprender, isto é, reprovar no curso de estudos desta escola pode ter consequências desagradáveis e, possivelmente, permanentes. Segundo este esquema há três grupos: os que estão submergidos e presos ao material, totalmente cegos às realidades além dos sentidos físicos; os que intuem outra realidade e rejeitam o material crendo que um exclui ao outro (o material e o espiritual); e os que entenderam que tudo é um, e o material e o visível é uma parte imprescindível de um todo maior.

Hoje em dia somos diferentes de nossos antepassados; diferente deles, quem entendiam inatamente ou tinham a natureza de crer e seguir cegamente a sabedoria comum (os campos energéticos do conhecimento coletivo) e aos sacerdotes e mestres; nós queremos motivos, queremos saber por que, e queremos saber o que vamos ganhar por dedicarmos a qualquer atividade. Por este motivo falamos com mais profundidade do processo e funcionamento da meditação e suas formas não consideradas normalmente como meditação e por que convém a nós gastarmos tempo com elas.

A religião formal insta às pessoas a buscarem a “salvação”. Ameaçam-nos com o inferno e nos incitam com várias versões do paraíso. A vida cotidiana já nos devorou a um grau que a salvação procurada pela maioria é a salvação das dificuldades e do sofrimento experimentado física, emocional e materialmente nesta vida difícil. E o paraíso que as pessoas mais querem é puramente material, ou pelo menos, alívio do sofrimento que torna sua vida difícil. Inclusive os anciãos fiéis que já não têm esperança de uma felicidade mundana, esperam uma vida celestial no céu depois da vida, mas que se assemelha ao paraíso material onde tudo é bonito segundo seus sonhos e gostos.

Bem, acredita que você é tão diferente? Todos nós passamos por um processo de lavagem cerebral no qual o mundo em que vivemos nos convenceu que ele é tudo. Digerimos esta ideia inclusive quando dizemos que não. Como? Ainda que proclamemos que cremos em uma realidade além da matéria, estamos cheios de preconcepções, imagens e desejos de como é a “realidade além”.

Há tantas coisas notadas no mundo físico pelos físicos, astrônomos e cientistas cosmólogos que não têm explicação além de forças invisíveis e misteriosas, tanto é que agora é aceito pela maioria dos cientistas que o material visível constitui não mais do que 5% do universo. Falam de material e energia escura que ninguém sabe o que é.

De algumas maneiras os cientistas são melhores do que nós. Eles deduzem realidades além do visível baseadas em realidades que viram e podem medir. Eles estão dispostos a mudar de opinião se descobrirem novos fatos e não há espaço neles para seus desejos pessoais. Não importa se o casamento deles vai bem ou mal, se o filho deles entrou no mundo das drogas, se não conseguem [o suficiente] para todos os gatos ou qualquer problema pessoal – os fatos são fatos.

Não obstante a atitude do cientista em geral, alguém que busca a realidade no ramo espiritual, por qual razão for, tem algumas vantagens sobre o cientista, se entende bem a verdadeira natureza do ser humano: buscar as respostas dentro [de si]. Dentro de nós se encontra um espaço muito maior que todo o universo que os cientistas podem observar ou medir e tudo isso é acessível aos que têm a vontade e paciência de persistir no trabalho necessário.

Porém isso requer que tenhamos a atitude dos cientistas que parece, ainda que eles não concordem, com a essência da religião, que é submissão a Deus. Isto é, temos que nos livrar de nossas próprias ideias de como as coisas devem ser e ver o mundo e a vida de forma totalmente objetiva. Os budistas dizem que o desejo é a origem de todo o sofrimento. O desejo (material) não é mais do que outra maneira de expressar nossa rejeição a Deus, ou ao Cosmos como é, e a submissão é outra maneira de expressar ou estar em harmonia com o universo.

Como o cientista vê que o universo está se expandindo a uma velocidade cada vez mais rápida, contra toda lei física e racional e deduz que têm de haver outras forças não visíveis envolvidas, se nos esvaziarmos de nós mesmos, ou melhor, do nafs/ego que quer nos dominar, mais do que deduzir que há mais de nossa realidade do que o visível e o normalmente perceptível, poderemos experimentar essa realidade e muito mais.
  
 Essas ideias não pertencem a uma tradição espiritual apenas, existem em todos os ramos autênticos. Aqui no México existia, e ser Deus quiser, existem pessoas que experimentaram a verdade. O xamã Yaqui don Juan Matus , sobre quem o antropólogo Carlos Castaneda escreveu, usava termos diferentes, mas expressou realidades idênticas as que os esotéricos de todos os tempos, quer sejam judeus (cabalistas), cristãos (gnósticos) ou muçulmanos (sufis) [expressaram]. Disse: “[...] no universo há uma força imensurável e indescritível que os bruxos chamam desígnio e que absolutamente tudo quanto existe no cosmos está entrelaçado, ligado a essa força por um vínculo de conexão. Por isso, o total interesse dos bruxos é delinear, entender e utilizar tal vínculo, especialmente limpá-lo dos efeitos nocivos das preocupações da vida cotidiana.”

A limpeza de “preocupações da vida cotidiana” é o primeiro passo na senda espiritual. É também o que todos querem mesmo se não acreditam ou querem saber ou experimentar algo desconhecido. Todos querem a paz e a libertação do estresse e da preocupação se é só para se relaxar um pouquinho. Bem, isso se consegue se se esvaziar e fizer contato com a força divina que penetra tudo o que existe. Essa força nos limpa e abre canais ao conhecimento e nos liberta.

Desde os princípios dos tempos existiram métodos para fazer contato com essa força. 

Continuará.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Faça um favor a si mesmo: ame!


Por Mestre Mohammad Abdulla Ansari

Escrevi recentemente:

A ideia de bem e mal é relativa e não existe em um sentido essencial, quase ninguém acredita que está fazendo o mal, fazem o que lhes convêm, o que acreditam que é bom para ele ou ela. Mas em termos práticos, é claro que há pessoas e atos que... são maus, causam dano a outras pessoas. Mas, eles causam mais danos a si mesmos que a outros, e as consequências de seus atos vão retornar para eles com acréscimos tanto aqui durante a vida física quanto depois da morte...

Estamos rodeados de mal, pessoas violentas, ladrões e muita desonestidade. Devemos nos proteger contra toda a maldade que nos ameaça diariamente, mas, como escrevi, temos que entender a verdadeira realidade da situação. Passamos por este mundo material de energia densa para aprender de Deus, ou seja, aprender e entender a ciência da existência.

E (Deus) criamos todas as coisas em casais (ou opostos). Talvez assim reflitais. (Alcorão 51:49)

O mundo é baseado em equilíbrio, um balanço entre forças, energia positiva e negativa, na essência não há bem e nem mal, tudo é um, um não pode existir sem o outro. Perguntaram-me: por que existe o mal, por que Deus permite o mal? Podemos dizer que não há luz sem escuridão, não existe cima sem baixo, e assim sucessivamente, e isso é parte da resposta. Outra resposta importante se trata da nossa razão para estar aqui neste mundo, a de crescer espiritualmente, conhecer a Deus. Isso requer escolhas, livre-arbítrio; ao escolher entre o correto e incorreto estamos modelando nossa alma e construindo nosso destino. Sem o mal, não existiria livre-arbítrio – com tudo perfeito e bom não haveria motivo para viver, não haveria forma de cumprir nosso propósito neste mundo e vida.

Como uma pessoa causa dano a si mesmo ao cometer um ato mau, como mencionei na citação acima, nossa reação a essas pessoas e situações negativas é um elemento chave para nosso desenvolvimento espiritual. As emoções e pensamentos negativos, além de seus efeitos nocivos a nossa saúde física, causam danos a nossa alma, nosso desenvolvimento espiritual. Tudo é energia. Emoções e pensamentos têm frequências que ressoam com frequências iguais tanto internas como externas com efeitos correspondentes.

O amor real é uma frequência divina (não é uma emoção), e é como cola que une elementos. Disse Jesus: “Ama o teu inimigo”. Algo difícil de fazer, a menos que vejamos o amor com entendimento – se entendemos a verdadeira condição das pessoas más, sua ignorância e sua relação ou posição espiritual na existência, a viagem de desenvolvimento das almas, de nossa conexão tanto com ele ou ela, como com toda a humanidade não só nesta estadia curta aqui, mas por toda a eternidade, as reações negativas se dissolvem e começamos a experimentar o efeito unificador/que conecta do amor.

Amar só é difícil se entendemos o amor como uma emoção, amor emocional, no lugar de sua realidade energética, uma frequência divina com um efeito pegajoso que nos faz sentir a realidade de que somos uma única entidade, conectados e unidos com Deus.

Ebooks para download (Página com atualizações constantes)


“A busca do conhecimento é obrigatória para todos os muçulmanos.”
Profeta Muhammad (s.a.w.s.)

No Sufismo o conhecimento é adquirido através do coração, por meio da conexão entre o estudante e seu mestre (sheik), a linhagem de mestres que nos liga ao profeta, e consequentemente, a Allah. No entanto, existem verdades que Deus revelou à humanidade por meio de diferentes profetas e tradições religiosas. Muitas dessas verdades existiam em sua forma oral, e, posteriormente, foram codificadas e hoje existem na forma escrita.

Disponibilizamos abaixo o link de algumas obras para download. São obras variadas, de diversas tradições místicas e religiosas. O buscador da verdade deve realizar sua leitura com cuidado, já que muitas destas obras podem ter influências do pensamento da época e da cultura dos países onde foram escritas, e, sobretudo, têm seus significados originais enfraquecidos devido a tradução que foi feita das obras (no caso de livros que foram escritos em idiomas sagrados). O estudante deve sempre pedir explicações de seu mestre sobre qualquer assunto de que leia.

LIVROS:

1 - Alcorão Sagrado (Árabe/Português) - Tradução do Dr. Helmi NASR

2 - Tradução das palavras do Alcorão Sagrado - Tradução de Samir El Hayek

3 - Bíblia Católica

4 - Bíblia Protestante - Tradução João Ferreira de Almeida

5 - Bíblia Protestante - Edição Revista e Corrigida

6 - Bhagavad Gita

7 - O Zohar - Livro do Esplendor

8 - Como suportar tudo e ser feliz- Livro do nosso Sheik Mohammad Abdullah Ansari

9 - Livro budista (em espanhol): Sé tu propio terapeuta

10 - Livro budista (em espanhol): Tu mente es un océano

11 - Evangelho Essênio da Paz

VIDIOTECA:

2 - Como realizar o salat

_________________________________________________


Vídeo com o áudio das suras Fatiha, Ayat Kursi, Ihlas, Falak, Nas.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Um estudante sente a solidão do caminho espiritual


 Salam alaikum R… –

O Sufismo e a senda espiritual, em geral, são um caminho solitário, mas na companhia de milhões de outras pessoas. O que eu quero dizer?

Lembre-se da citação do Alcorão: “E Ele é Quem vos criou de uma única Alma...”. Todos nós estamos juntos nisso – como uma única pessoa, uma alma.

Perguntaram-me: por que o mundo continua uma confusão contínua, por que não é tudo perfeito, por que este mundo nunca vai ser o paraíso? É porque todas as almas, aspectos de nós mesmos, estão em diferentes fases ou etapas de desenvolvimento. Esse é o propósito deste lugar, a Terra, um campo de treinamento para almas em desenvolvimento. O universo é orgânico, tudo nasce, cresce (se desenvolve) e morre (se transforma). Isso também inclui a nós; nossas almas começam como sementes e têm que passar por um processo que consiste em percorrer por muitas vidas e mundos. Chegamos aqui como almas incompletas para trabalhar, trabalhar para crescer e para conhecer a Verdade, ver a Realidade. É lógico que todas as almas estejam em diferentes etapas do processo – há pessoas boas e más, todas umas trombando com as outras, conflitos e violência, tudo parte do processo de crescimento. A Terra é orgânica (obviamente) e nasceu, passou e está passando por etapas, vai morrer e tudo vai terminar para começar de novo.

“Nesse Dia enrolaremos os céus como são enrolados os pergaminhos escritos; [e] tal como demos origem à primeira criação, a repetiremos – uma promessa que Nos impomos: pois, certamente, podemos fazer [todas as coisas].” (Alcorão 21:104)

Então, o caminho para as pessoas que chegaram a uma fase do despertar, o princípio do despertar, é trabalhar só, mas com o entendimento que todo mundo (nossos irmãos e irmãs) estão lutando também na sua maneira, em seu ponto do processo. Parte do nosso trabalho é entender e ter compaixão por todos os demais e o sofrimento deles – o crescimento acarreta luta e dor – devemos sentir o sofrimento dos demais e fazer o que pudermos para ajudar. Neste sentido nosso caminho é totalmente solitário.

Salam e wadud,

Sheik Mohammad Abdullah

O método divino do amor


Por Mohammad Abdullah Ansari

Há algum tempo um sacerdote disse para um estudante de yoga que se não se confessava estaria condenado para sempre. Assim é como a religião formal tende a conduzir ao fanatismo. A ideia de que se você não faz os rituais ao pé da letra comete um grande pecado. Isto se aplica a todas as religiões e atualmente vemos isso mais forte no Islã.

Parece estranho, mas de alguma forma a religião impede o verdadeiro avanço espiritual. É comum que as pessoas se apaixonem pela religião no lugar do próprio Deus – por Deus quero dizer se harmonizar com a Realidade, a Força Inteligente Cósmica.

Na verdade há tantos caminhos como há pessoas, todos nós somos diferentes e todos temos necessidades espirituais distintas. Um lema sufi diz: “O amor é o caminho mais rápido até Deus”. O amor, o método do amor para conhecer a Deus e conseguir a “iluminação” é composto por compaixão e compreensão, um desejo de que outras pessoas sejam felizes e exitosas e que consigam a proximidade com Deus. Uma oração do budismo tibetano é:

Que todos os seres sejam felizes,
Que todos os seres se libertem do sofrimento,
Que ninguém seja despojado de sua felicidade,
Que todos os seres consigam equanimidade, livres de ódio e de apego.

Querer que todo mundo seja feliz e que haja paz no mundo inteiro é logicamente impossível, mas o desejo de que aconteça é uma forma poderosa de romper a ilusão egocêntrica de separação. Como diz o Alcorão, todos somos criados a partir de uma única alma, todos estamos conectados, querer o bem de outra pessoa é querer o bem de uma parte de nós mesmos, ajudar a uma pessoa é ajudar a nós mesmos, amar a alguém mais é amar a nós mesmos. Querer que todo mundo seja feliz e livre de sofrimentos é uma forma poderosa de combater o domínio do ego.

Além disso, ainda que todo o mundo esteja em diferentes níveis ou etapas na viagem espiritual, alguns são muito bons e outros muito maus; todos nós estamos no mesmo caminho e queremos que, no fim das contas, todos retornem à unidade com a Fonte.

Lembre-se de que o Sufismo Ansariyya é o caminho da ação. Ação é a definição de karma, todo o universo e nossas vidas são parte de um processo de causa e efeito, karma. E Karma é um balanço entre “destino”, os efeitos inevitáveis de ações anteriores, e livre-arbítrio, ações conscientes que produzem efeitos posteriores. Por isso que o Alcorão põe muitíssima ênfase em boas obras. Trabalhar pelo bem estar de outras pessoas junta os métodos de amor, compaixão e de ajuda ao próximo e conduz à derrota do ego e à conexão com a guia divina.

O método de Karma Sufi é converter nossos trabalhos e atividades cotidianas em atos de culto, de adoração a Deus.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Dhikr (zikr) é mais do que palavras


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

Tudo é energia, tudo o que existe no mundo são diferentes formações de bytes de energia, aspectos, atributos e poderes da Realidade Infinita Divina. Vemos neste momento um turbilhão dessas energias agitadas, energias negativas chocando umas com as outras. As energias divinas não são boas e/ou más, é o seu uso que as tona boas ou más.

Nós somos visitantes de outra dimensão. Podemos ser vítimas desses choques ou sermos livres e não sermos afetados. É uma questão de sintonização. Temos a possibilidade de sintonizar com as frequências deste mundo conflitivo e tormentoso ou sintonizar com a frequência de outra dimensão, nosso verdadeiro lar. Dhikr significa focar na, sintonizar com a, energia da Fonte Consciente. Podemos sentir a Deus ou sentir as energias agitadas do mundo. Sentir a Deus, a Energia Divina, dhikr, lembrança, consciência, cria uma aura de proteção ao redor do corpo e da mente e acalma as emoções.

Há algum tempo escrevi:
“O que significa dhikr (zikr)? Dhikr significa lembrança, nossa prática é dhikr Allah, lembrança de Allah. O que é Allah (Deus)? É a energia consciente que sustêm a existência. Onde está essa Força Divina? Dentro de tudo o que existe e isso nos inclui, Deus reside em cada célula dos nossos corpos. Muito embora, geralmente, o dhikr se refira à meditação na qual repetimos os nomes de Allah sozinhos ou em grupo e também durante o dia repetindo frases como ‘Alhamdulillah’, ‘Subhanallah’, ‘Bismillah’, ‘Mashallah’, e etc., mais importante [ainda] – dhikr significa lembrança! Lembrança implica consciência, estar alerta, desperto. Onde está Deus? Em nosso corpo, cérebro, olhos, no ar que respiramos...”

“TRANSMITE [aos demais] o que te foi revelado desta escritura divina, e seja constante na oração, pois, certamente, a oração refreia [ao homem] das ações desonestas e de quanto atenta contra a razão; e a recordação de Deus (dhikr) é na verdade o maior [bem]. E Deus a sabe tudo o que fazeis.” (Alcorão 29:45)

Dhikr significa manter uma consciência de Allah, a Força Essencial, em todo momentos ou o quanto pudermos. Consciência. O que significa consciência?

Deus, Allah, Yahveh, Brahma, ou como você quiser chamar essa Força Consciente, pôs em marcha um Sistema de leis, físicas e sutis, uma ciência que podemos usar em nosso benefício ou rejeitar em nosso detrimento. Ali está a chave, Deus nos deu a escolha de sintonizar com Ele ou com as forças enganosas do mundo material. Uma escolha conduz a uma consciência elevada, sabedoria, progresso espiritual, e a outra escolha nos leva ao estancamento, atrofiamento e um estado de repetição – você acredita que existam movimento e mudanças neste mundo, mas é tudo uma ilusão, a superfície, as formas parecem mudar, mas essencialmente é a mesma coisa uma e outra vez.

Tudo o que digo você poderia ver se estudasse essa ciência da existência e se colocasse em prática o dhikr em seu sentido mais amplo, uma sintonização positiva com a Realidade. Continuaremos, inshallah.

domingo, 19 de novembro de 2017

O Pomar de Mangas


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

Um professor foi até um pomar de mangas e começou a estudar as folhas e os galhos no chão. Notava os diferentes tons de cor das folhas e a espessura dos galhos, as posições relativas um dos outros e os estados de decomposição e caracterizou-os e anotou tudo.

Outro dia voltou com um grupo de estudantes e começou a explicar sobre as folhas e os galhos. Os estudantes o escutaram com atenção e muito interesse, exceto um mais inteligente que pegou uma manga e começou a comê-la.

Vemos algo semelhante na religião e nas sendas espirituais de hoje em dia, vemos isso também em nossa senda, o Sufismo. Há pessoas que estudam a religião, todos seus aspectos e ramificações, quando começou, com quem e onde. Estudam as influências antes e depois. Estudam as práticas e tudo o que dizem os sábios do passado, como isso afetou as sociedades e como foi incorporada na vida cotidiana das pessoas e nas políticas do governo.

Estes historiadores sabem toda a história e muitíssimos fatos da religião e/ou caminho espiritual. Há outras pessoas que leem os livros dos historiadores, se identificam com a religião, ou senda analisada, e a adotam como sua.

Tudo isso é parte de um labirinto de ensinamento que é necessário para algumas pessoas, leem e estudam e, se é o seu momento, deixam tudo isso para provar a manga, fazer o trabalho, como quando Hazrat Yalaluddin Rumi, um renomado e destacado mestre do Islã, conheceu Shams-i-Tabrizi e jogou fora todos seus livros para embarcar na mera prática. A fruta não é encontrada em nenhum livro ou lindos ditos, mas na prática.

Os livros e mestres despertam o interesse, a necessidade e apontam o rumo, mas o indivíduo tem que fazer o trabalho sozinho. Muitas pessoas nunca deixam de ser observadoras, estudantes na superfície do caminho espiritual sem provar o fruto, desfrutam os fatos e detalhes frios imaginando ter chegado numa parte do caminho.

O Sufismo é um caminho de ação e trabalho. A senda espiritual é um trabalho interior de tempo integral, de aprendizagem pessoal e de conhecer-se a si mesmo. Toda a verdade é encontrada dentro [de nós] com dhikr (mantra), introspecção, contemplação, meditação, auto-observação e observação do mundo. Os mestres existem para estimular e explicar de forma geral o caminho do estudante, mas o trabalho é o estudante que tem que fazer.

Hoje em dia tudo é superficial, música pop, cultura pop, psicologia pop e até Sufismo pop. Não caiam nisso, vão ao miolo, provem a manga, comam o fruto. Deus reside em tudo, mas há uma capa pop criada dos egos do ser humano ocultando a Verdade. Para vê-la a pessoa tem que despertar e manter-se desperta.

Leiam para se manterem rumo à meta, mas não esperem encontrar a “iluminação” num livro. Leiam para se animarem, mas nada se compara com o que alguém pode encontrar dentro de si mesmo. O Anjo Gabriel visitou ao Profeta (s.a.w.s.), abriu seu peito e colocou em seu coração um livro, o livro do conhecimento. Essa mesma coisa aconteceu com os outros profetas e pessoas iluminadas ao longo da história. Este mesmo ensinamento sempre existiu, não começou com o Sufismo e com o Islã. De fato, os nomes limitam o entendimento da realidade. Sou muçulmano e sufi não porque sejam os únicos caminhos, mas porque foram as últimas revelações da Energia Divina, os mais atualizados (ou menos alterados). Como diz o Tao Te Ching, “Aquele que pode explicar-se com palavras não é o Tao”. Na realidade não podemos ser muçulmanos e sufis, somos só viajantes e, rumo à conexão, a unificação com o não explicável.

sábado, 18 de novembro de 2017

Fanatismo Religioso


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

Há algum tempo budistas de Myanmar destruíram uma mesquita muçulmana. Os budistas geralmente são conhecidos como pacifistas. Na Índia, hindus também destroem mesquitas e matam muçulmanos assim como perpetuam atos violentos contra budistas. A Índia é conhecida como o país mais tolerante e com maior liberdade religiosa do mundo. Os muçulmanos destroem estátuas do Buda. Tanto muçulmanos quanto cristãos fanáticos batem e matam homossexuais. Os cristãos nos EUA queimam mesquitas assim como igrejas de negros. O cristianismo é a religião de amor, paz e perdão. Os judeus de Israel cometem crimes e atrocidades contra os muçulmanos da Palestina. Os muçulmanos sunitas matam muçulmanos xiitas. Durante a inquisição os católicos assassinaram milhões de pessoas “em nome de Deus”.

Poderíamos continuar, há muitos outros exemplos, mas é melhor parar por aqui. Como é que as religiões fundadas por meio das revelações de Deus criam fanáticos dispostos à violência e atos contrários aos próprios princípios da própria religião?

É uma questão de foco. Qual é a razão ou propósito da religião? As religiões foram construídas como métodos para colocar em prática as revelações divinas que um profeta recebeu. A religião não foi criação de Deus, mas do homem. Deus ou Força Energética Consciente revelou a ciência de como o ser humano pode sintonizar com a frequência divina, harmonizar-se ou unir-se com a Realidade e, então, um sistema que chamamos religião se desenvolveu. A verdade é uma, sem país, raça ou idioma, mas as religiões refletem culturas e inclinações humanas.

Com o tempo as pessoas se apaixonam pela religião no lugar do propósito da religião – a religião no lugar de Deus. Chama-se identificação e identificação extrema se caracteriza como fanatismo. Os primeiros sinais do fanatismo são o foco nas aparências, uma forma de se vestir identificando com uma ou outra religião, símbolos e adornos “religiosos”, oração em público e outras expressões de “religiosidade” realizadas para ser visto.

O fanatismo alcança seu apogeu quando a pessoa crê que tem que converter o mundo todo para sua religião, ou forma de religião, forçando as pessoas. Já não tem nada a ver com Deus, é uma exageração de egocentrismo, materialismo, e confundir a realidade com fantasia é uma forma de esquizofrenia.

Deus revelou a mesma ciência a todos os profetas, chama-se Submissão, submissão a Deus ou à Realidade, ou outra maneira de expressar seria aceitação, aceitar nossa dependência de Deus e nossa realidade no esquema universal. No estado de aceitação uma grande carga sai de cima da pessoa e ela se conecta com a frequência divina. A frequência divina é o amor e é adquirido com a morte do ego.

Nada acontece automaticamente. O amor é a ausência do ego, mas a ausência do ego é obtida com amor – o amor real mata o ego. O amor é uma escolha.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Quem somos?


Por Mohammad Abdullah Ansari

Todos os problemas tem sua origem no fato de que não somos um, mas muitos: somos uma legião, dentro de nós há um cabo de guerra entre entidades que fingem sermos nós. Fomos alguma vez integrados e balanceados, no princípio quando Deus nos criou no mundo da criação, o mundo no qual Deus criou toda a humanidade e tudo o que vai acontecer em potencial. Deus nos mandou para este mundo e vida para conhecê-lo, crescermos e desenvolvermos a perfeição que Ele quer de nós – o insan-i-kamil. Todavia, a maioria das pessoas esquecem rapidamente de onde provêm e sua tarefa aqui; alguns poucos sim têm um vislumbre de recordação que lhes impulsiona a buscar a verdade. Esta busca começa com o conhecimento de quem somos e a psicologia real do ser humano, bem como das causas de seu esquecimento e, consequentemente de seus problemas e dificuldades na vida – como disse Jesus: “[...] a verdade vos libertará”.

Pelo esquecimento de seu propósito e missão original neste mundo/vida o homem/a mulher se apaixonou pelo mundo (sua primeira distorção emocional, a da perversão do amor) devido a uma sensação inconsciente da carência inata. Este estado de ser põe em movimento as outras emoções e a inércia toda conta de tudo. Como na física, a energia está sempre vigente – uma coisa em movimento continua em movimento até que se encontra com uma força opositora que a impede ou desvia e tende a aumentar. As emoções crescem e aumentam até chegarem num ponto em que toda a realidade e percepção são distorcidas e a pessoa chega a um estado de irrealidade em que realmente não atua por si mesmo, é só uma máquina que não pode iniciar nenhuma ação própria.

Contudo, sua realidade, nossa realidade, ainda existe, é o nosso núcleo, mas está coberta, escondida, obscurecida por uma ilusão, uma imagem de ser, o ego, uma personalidade falsa criada pelo “medo original”, a sensação inconsciente da separação e proteção de Deus, a verdadeira Realidade da Existência. O ego toma o lugar de Deus, de uma forma falsa, se faz Deus e perpetua atos contínuos de “mecanismos de defesa” em defesa de si mesmo, do próprio ego, uma ilusão criada, e assim o indivíduo vive uma espécie de sonho.

Nosso trabalho é tirar tudo o que nos separa de nossa realidade, o ser real, a conexão com a guia e o conhecimento da Divindade. O primeiro passo é conhecer o inimigo, temos que conhecê-lo primeiro para então eliminá-lo.

Nossos pensamentos e reações emocionais criam nosso mundo pessoal que pode ser, pelo menos em parte, uma fantasia, uma ilusão. Para vermos a realidade devemos questionar cada pensamento, emoção e analisar sua origem. Primeiramente dedemos adquirir consciência da presença das emoções negativas que todos temos dentro [de nós]. Medo, raiva, inveja, avareza, arrogância, orgulho e mais, todos temos características (pelo menos) dessas emoções – inclusive as pessoas muito avançadas espiritualmente têm pitadas [traços] de emoções negativas, que integram o corpo, e por isso não podemos baixar a guarda. Cada situação ativa emoções e pensamentos. Devemos estar alertas, observando a qualidade das emoções e pensamentos, só assim poderemos nos esquivar do ego e chegar ao núcleo essencial do ser, nossa Realidade, a conexão divina.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Criados de uma única Alma - Parte 2


Por Mohammad Abdullah Ansari

“E Ele é quem vos criou a partir de uma única Alma, uns constantes em sua fé e outros inconstantes.”
(Alcorão Sagrado 6:98)

Tudo brotou de uma única semente, uma faísca do próprio Deus, isto é, da Energia Divina. Essa semente se dividiu e gerou toda a humanidade, todos nós somos de uma [única] família, irmãos e irmãs.

“[...] Estamos mais perto dele do que a sua artéria jugular.” 
(Alcorão Sagrado 50:16)

Rassulallah (o Profeta do Islã) disse:

“Tenha compaixão com todas as pessoas na Terra e assim Deus terá compaixão contigo.”

“Deus é compassivo e gosta de compaixão – Ele da às pessoas compassivas o que não da às pessoas inflexíveis.”

“Neste planeta há inumeráveis seres vivos, mas muito poucos sabem colocar-se no lugar dos demais. Esta prática pode ser muito difícil, mas é extremamente valiosa. Se você a realizar, lhe ajudará a solucionar todos seus problemas. Mudar desta forma sua atitude transformará qualquer infelicidade que você encontrar no caminho aprazível à libertação.” 
(Lama T. Yeshe)

É claro que isso de nos colocarmos no lugar dos outros é filosofia popular, muitos refrãos se referem a isso, mas ainda que quase todas as pessoas sensatas concordem com isso, quantas pessoas colocam em prática? Não muitas. Provavelmente porque não entendem a ciência dela e também é difícil fazê-lo por um tempo prolongado.

De um ângulo prático, físico, material, dirigir a mente em direção a trabalhos específicos abre ou expande nosso conhecimento da realidade. Deixando o cérebro livre ele cai preso de todo tipo de influências exteriores e interiores, assim como emoções egocêntricas. Controlar e dirigir o cérebro e os pensamentos cria uma dualidade, seu ser real vendo e controlando a parte semirreal, material, mundana. Quanto mais ficarmos neste estado, mais conseguiremos a guia divina que passa através do coração e da mente real.

Como o Alcorão diz e falamos na primeira parte desta série, todos somos criados de uma única alma, todos somos partes de uma única realidade, todos estamos conectados. Sentir a realidade deste fato é um requisito para entender o mundo, o universo e nos conectarmos com Deus.

Todo mundo está sofrendo seu inferno particular, geralmente sem saber, inconscientemente, e isso provoca suas atitudes e conduta. Ainda que pareça o contrário, as pessoas, inclusive os maus, não sabem o que estão fazendo, não querem causar dano. Devido ao controle do ego ou personalidade falsa, inclusive as boas pessoas estão fora de controle pessoal, estão sujeitas a influências alheias.

Sentir a situação, as atitudes e sofrimento de outras pessoas cria uma conexão, nos torna maiores e, ainda que pareça uma contradição, reduz nosso sofrimento – amamos a Deus, à Consciência Universal, por meio de Sua criação e [Ele] nos ama através de Sua criação. Continuaremos, inshallah.

Resposta do Sheik a um estudante que perguntava sobre a iniciação sufi (bayat)


Salam alaikum J… –

O bayat (cerimônia de iniciação) é, na verdade, só uma formalidade. A conexão entre o mestre e o estudante é criada por eles mesmos. Se o mestre ou o/a estudante esquece um ao outro, ou se não sentem a conexão, o amor, o bayat não significa nada. Por outro lado pode existir uma sensação de conexão, quer seja amor, inclusive sem o bayat, e é real.

Na verdade, muitos dos meus “estudantes”, pessoas que leem os meus textos e fazem perguntas, “pertencem” a outras tariqas.

Lembre-se da diferença entre a religião formal e o Sufismo – a religião formal consiste em regras e rituais, hábitos que as pessoas praticam sem pensar muito, enquanto que no Sufismo, assim como nas sendas iguais [a ele] do passado, as sendas são (ou devem ser) para pessoas que querem uma experiência pessoal com Deus, um caminho “feito à medida”. Infelizmente, hoje em dia, vemos que muitas tariqas já são mais ou menos como as religiões formais, aparências e hábitos.

O amor é uma frequência divina, é a frequência que cria uma conexão entre uma pessoa e Deus, assim como entre duas pessoas. O que chamamos rabita, que traduzimos como conexão, é na verdade a sintonização com a frequência divina de amor dirigida à uma pessoa específica ou mesmo a Allah.

O sheik, mestre, sente amor por seus estudantes. Bem, por todo mundo, mas quando o estudante retorna o amor, isso produz um laço, o estudante entra no campo energético do mestre e isso torna o caminho do estudante mais suave e fluido.

Então, o caminho sufi consiste em rabita – amor, sintonização com a frequência divina; trabalho – uma meditação de dhikr diária, mais outras práticas; e uma batalha constante contra o nafs/ego.

O verdadeiro Sufismo é interno. É uma senda difícil porque tratamos de não nos apegarmos a imagens ou aparências externas. As pessoas têm suas imagens religiosas (ou assim crê) porque é mais fácil fazer culto a tais coisas do que a algo que não possamos ver. Mas essas coisas são materiais e o adorar ou concentrar-se em coisas materiais causa uma rigidez tanto física quanto espiritual na pessoa que a torna “impenetrável” energeticamente, o que quer dizer, que põe uma barreira entre ele ou ela e a frequência divina.

Tudo é energia. A solidez do mundo e de nós mesmos é uma ilusão, mas a mente pode densificar tudo fazendo separações onde na realidade não existem; todos nós estamos unidos, conectados, mas para experimentar isso a pessoa tem que trabalhar.

Não se preocupe, existe uma conexão, estou com você. Se você quiser fazer o bayat comigo, não tem problema, mas lembre-se que é só uma formalidade. O verdadeiro bayat é interior. Só por expressar o desejo de continuar comigo é suficiente. Se você também quer uma designação de dhikr, avise-me.

Salam e wadud,

Sheij Mohammad Abdullah

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Criados de uma única Alma


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

“E Ele é quem vos criou a partir de uma única Alma, uns constantes em sua fé e outros inconstantes.”
(Alcorão Sagrado 6:98)

“Dele dependem todas as criaturas nos céus e na terra; [e] cada dia se manifesta outra faceta.”
(Alcorão Sagrado 55:29)

Tudo brotou de uma única semente, uma faísca do próprio Deus, isto é, da Energia Divina. Essa semente se dividiu e gerou toda a humanidade, todos nós somos de uma [única] família, irmãos e irmãs.

“[...] Estamos mais perto dele do que a sua artéria jugular.” (Alcorão Sagrado 50:16)
Onde está Deus? Deus está dentro de cada um. A força que chamamos Deus, uma Realidade além de [qualquer] descrição ou limitação, reside em nós, nos bons e maus, nos iluminados e ignorantes. Como é que a Divindade habita dentro dos maus e ignorantes? “[...] uns constantes em sua fé e outros inconstantes.” Nossa Realidade, a parte de Deus que forma nosso núcleo, está coberta pelo ego, um indivíduo falso criado pelo apego mundano e pelo condicionamento familiar, cultural, social e mais, uma irrealidade que nos cega, nos densifica, nos faz impenetráveis, tanto que a Verdade não pode entrar em [chegar até] nós. Onde você pode encontrar a Deus? Estamos rodeados por Deus, está em cada pessoa com quem nos relacionamos. Você pode ver e se relacionar com a sua personalidade falsa ou pode ver as partículas divinas que constroem tudo o que existe.

“Ama o teu inimigo”, disse Jesus (assim como todos os profetas), mas, como? O mestre Jesus pôde, mas nós não somos santos, então, como poderemos amar a um inimigo ou a uma pessoa má? Se só vemos a superfície, o indivíduo criado pelas circunstâncias da vida, o indivíduo em uma etapa inicial de sua vida eterna, só veremos a casca dura e isolada da realidade sutil e que flui. Mas a verdadeira realidade não é assim. A solidez do mundo e de tudo nele, incluindo a nós mesmos, é uma ilusão. Somos feitos de átomos – os átomos não têm substância material, e, muito menos, nós. Tudo é energia. Ainda que a matéria seja construída de componentes, os componentes mais básicos do universo são aspectos ou atributos de Deus (Allah), os [Seus] nomes. São como as cordas da teoria das supercordas da ciência quântica – a verdadeira base de tudo. Então, pode chegar um momento em que, no lugar de ver a casca dura das pessoas e do mundo, veremos pura energia divina, remoinhos de movimento vibratório, ondas de frequências não visíveis para os olhos normais, mas sim visíveis aos olhos internos. Ao ver as pessoas assim você poderá sentir o amor real porque estará vendo ao próprio Deus. O mundo é uma manifestação de Deus, mas tudo está enterrado embaixo de um véu ilusório criado pelas fantasias do homem.

Deus nos deu livre arbítrio nesta etapa de nossa vida, em nosso tempo na terra, para aprender a ver Sua realidade. Temos que escolher ver. Primeiro, temos que decidir que queremos ver e, então, decidir realizar o trabalho necessário. Temos que retirar a casca que nos separa de nossa realidade. Cada pensamento negativo, cada emoção negativa, toda inclinação, criam capas duras encima do núcleo interno, nossa realidade, o ser real. Esse processo negativo se manifesta de forma física, o corpo se torna rígido e a energia vital se paralisa a e a mente se fecha. O corpo está composto de uma ampla gama de frequências que ressoam com frequências externas tanto positivas como negativas e daninhas. São nossas atitudes e nossas decisões que determinam com quais [frequências] nos sintonizamos. Estar consciente do corpo, das sensações, das emoções e dos pensamentos é primordial no trabalho que nos levará à revelação divina, a habilidade de ver e sintonizar com a Realidade.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Viver sem viver


Por Mohammad Abdullah Ansari

Você pode encontrar tempo para meditar três horas por dia, seis, ou mais, ou se retirar a uma montanha e se sentar em frente de uma árvore (como Buda fez) e olhar dentro de si até que você chegue a um estado de paz e tranquilidade. Então você pega seu carro para voltar a casa e a bateria morre. Você liga para sua esposa e escuta uma mensagem dela que diz que lhe deixou por outro. Chega um mecânico que carrega a bateria, mas rouba o macaco do seu carro e outras coisas que você guardou nele. De caminho para casa um policial lhe detém e tira quinhentos reais de você com um pretexto qualquer. Você chega em casa e encontra o seu filho drogado e a sua casa destruída. Sua filha chega com o namorado dela, um inútil, para lhe dizer que está grávida e os três vão morar na sua casa, e: o que tem na geladeira?

Você conseguiu manter a sensação de paz e tranquilidade?

Temos dito que este mundo é de importância primordial, um passo indispensável em nossa viagem de uma longa vida, que esta vida não é mais que uma estadia curta, mas crucial. Nossa evolução como seres humanos não pode ser completada se nos escondemos da principal fonte de ensinamento e desenvolvimento: o próprio mundo. Talvez seja correto acreditar na reencarnação, porque se morremos sem cumprir o nosso trabalho na Terra voltaremos para tentar realizá-lo outra vez. Quase o mundo todo é como monges porque estão vivendo sem viver, isto é, sem consciência, uma espécie de sonho.

Obviamente não sou contra a meditação, mas sim contra a prática ou forma de meditação que não induz a um estado de consciência elevado que lhe da a habilidade de entender e tratar com os acontecimentos difíceis desta vida; essa meditação não vale nada! A meditação que você faz apenas por períodos curtos ou longos não é nada mais que uma parte do trabalho necessário. Devemos estar despertos às 24 horas do dia. Temos que aprender a ler os sinais que a vida continuamente nos está dando. Devemos poder usar as práticas mais importantes que fazemos dentro de nossas atividades cotidianas. De fato, devemos usá-las ou não valem nada! Além disso, algumas das práticas mais importantes se encontram dentro destes escritos mesmo – práticas e atitudes que se realizam ou usam continuamente durante o dia.

Bem, falamos da consciência. Quando dizemos consciência estamos nos referindo a um estado de perceber, de estar presente no momento, de presença plena. Significa não estar pensando ou preocupando-se do passado ou do futuro, mas [estar] apenas no presente. Significa estar alerta e pronto. Significa que nenhuma coisa, nenhuma emoção ou atividade está levando você a viagens mentais, fantasias ou afundando-lhe em emoções negativas ou reacionárias. Estar vivo, no momento, sem medo.

Estar consciente significa que vês as coisas como realmente são, não por meio de percepções manchadas de preconceitos, preconcepções, recordações, gostos e desgostos.  Não reaja negativamente a nenhuma provocação e ninguém poderá lhe ferir. Você é invulnerável!

Se realmente você entendesse a beleza deste estado ou condição você o buscaria. Mas não é tão fácil como apenas querer, as forças negativas e o ego são fortes demais. Entretanto, podemos entrar neste estado, ou níveis ou graus dele, e nele estamos quando praticamos várias formas de meditação. Outra maneira simples de conceber esta consciência é auto-observação. Quando você está observando a si mesmo, tanto nos exercícios meditativos como em plena atividade mundana, você está se colocando na posição de observador. Quem é o observador? Quem está observando a quem?

Há exercícios de séries de movimentos, Tai Chi ou os de Chi Kung, ou desse estilo que tratam da consciência corporal. Sentimos o corpo, no começo muito pouco e com o tempo, muito forte, e, então, o fluir intenso da energia. É como se estivéssemos vendo o corpo, sentimos e vemos, e, assim nos separamos dele – estamos ali, mas não ali. A consciência está vendo o corpo, estamos nos posicionando na mente real, a consciência do coração, e entramos numa consciência elevada de presença plena. A consciência corporal adquirida nesse tipo de exercício é uma consciência parcial e específica, é para praticar exercitando músculos sutis necessários para a consciência mais ampla requerida para estar realmente desperto, consciente e alerta na plena atividade da vida cotidiana.

Outra forma de auto-observação é a de uma pessoa checando continuamente sua própria conduta. Alguém preocupado, como todos devemos estar, de no cometer erros na sua forma de pensar, isto é, vigiando-se a si mesmo de pensamentos e emoções negativas como julgamentos e a raiva. Isto pode estender-se mais profundamente até colocar-se em um estado de consciência de si mesmo em que todos os processos e reações, corporais, emocionais e mentais estão presentes à vista. Quem está vendo?

Aquele que está vendo e experimentando tudo é o ser real, o coração, a parte da alma entre o nafs (o ser o alma terrena) e as partes da alma conectadas a mundos superiores e à própria força Divina. A direção divina e a ajuda de Deus chegam através do coração.

Qualquer pessoa pode alcançar um grau de consciência fazendo o que foi acima descrito. Mas manter este estado e fazê-lo crescer e convertê-lo em um hábito é outra coisa. Sem a prática, depois de alguns momentos a pessoa é novamente devorada por forças exteriores e, então, [termina] em uma avalanche de pensamentos e emoções provocadas por ditas atividades e forças; dormindo.

Estamos usando termos meio seculares. Nas sendas espirituais, nos ramos místicos de todas as religiões, os praticantes focam continuamente em Deus. Encontrei esta prática, pela primeira vez, quando era jovem, no começo da minha busca espiritual, ao estudar os primeiros cristãos, neste caso, os padres do deserto. Eram cristãos coptas do Egito que repetiam dia e noite o nome de Deus (não sei que nome usavam). Uma das principais práticas do Sufismo é o zikr (dhikr) que é a repetição dos 99 nomes de Deus (Allah). Dhikr significa lembrança de Deus. Meu Sheik (mestre) sempre nos diz: “Foquem em Allah”. Quando você entende a verdadeira realidade da forma semi-secular de auto-observação e o método de focar na Entidade Suprema, verá que é a mesma coisa. As duas requerem conhecimento: quem é você? Quem está observando a quem? E na outra, um conceito da Unidade Sagrada suficientemente ampla, grande e não material.

Posicionados no coração várias coisas podem acontecer. Uma é que o poder do nafs/ego está encolhido, não pode exercitar tanto sua vontade, o canal de envio ao cérebro está ocupado pelo coração e isso reduz as reações emocionais e o fluir de neurotransmissores negativos e nocivos ao corpo. Outra coisa é abrir o canal e fluir de energia, que queima a negatividade e aumenta o estado de consciência criando o que podemos chamar um círculo virtuoso no lugar de viciosa. Continuaremos.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Canal da Ordem Sufi Qadiri-Rifai Ansariyya no YouTube


Agora a Tariqa Sufi Qadiri-Rifai Ansariyya tem um canal no YouTube criado para divulgar os ensinamentos do Sheik Mohammad Abdullah Ansari em vídeos curtos.

Convidamos a todos para que nos acompanhem neste novo projeto que se inicia.

Abaixo, um dos vídeos que disponibilizamos no canal: 



Para assistir outros vídeos, clique no link a seguir:
https://www.youtube.com/channel/UCJ4ZWJsRqacGVIljaM0Rctw/videos

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O cérebro esponjoso


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

O cérebro é a conexão ou transformador que nos conecta com tudo. Pode nos conectar com outras dimensões, incluindo a Deus mesmo (dimensões divinas) ou por outro lado a um monte de influências mundanas com efeitos daninhos espiritualmente, uma densificação do cérebro e corpo, bem como dano à receptividade inata dos dois. Em seu estado correto o corpo é como uma antena, ou melhor, um condutor de energia, mas quando a atenção está dirigida ao mundo, às coisas materiais, ou seja, o mundo superficial e os desejos materiais, uma densificação se inicia e bloqueia sua receptividade de frequências sutis (divinas). Não quer dizer que devemos abandonar a participação material, que nos convertamos em monges, mas que participemos no mundo de outra forma, sem apegos.

O cérebro e o corpo são esponjas. Quando a atenção é dirigida ao material, ou melhor, atraída, captada, e por fim, influenciada e moldada, absorve todo tipo de coisas que provocam mudanças importantes no ser, uma visão e entendimento constringido, tensões corporais, mudanças emocionais e uma inabilidade de ver além de este mundo estreito e limitado.

Esta é a condição mais comum no mundo. Como resultado o mundo reflete a condição das pessoas, o mundo influencia as pessoas e as pessoas criam o mundo; um círculo vicioso. Como o mundo é? Um emaranhado de violência inspirada pela avareza, ódio e medo.  Essa é a natureza deste lugar. Se fosse o único lugar seria deprimente, mas não é. Este mundo, a Terra, é uma estadia temporária onde passamos como parte do desenvolvimento da alma. Nada neste mundo vai mudar, não vamos ver melhoras – nunca mudou em milhões de anos. Não vai mudar porque as pessoas no mundo estão em diferentes etapas de seu desenvolvimento espiritual, a maioria no nível da matéria ou do animal.

Há também, algumas pessoas que chegaram aqui ainda incompletas, chegaram ao ponto, prontas para ver a Verdade e por isso seus cérebros se encontram em um estado de não aqui e nem lá – cérebros um pouco desorientados. Essas pessoas não se adequam às normas, não se encaixam nas coisas como são. Os psicólogos inventam uma infinidade de etiquetas para classificá-las, mas se essas pessoas não encontram o caminho, se afundam em seu “problema” e se tornam vítimas, se estagnam e não saem de seu estado etiquetado psicológico e morrem assim para continuar seu desenvolvimento em uma etapa mais adiante. Mas são pessoas prontas para se abrirem ao universo de realidades e possibilidades – só têm que dar o primeiro passo.

A resposta (o caminho) é sempre espiritual – espiritual significa a realidade invisível, invisível para os olhos normais, físicos. Não estamos falando de uma religião e nem de fé cega. A resposta se encontra dentro de cada um. Temos que trabalhar para conhecer a nós mesmos, o cérebro, a mente (que não é o cérebro), as emoções, as sensações e todo o externo que as está afetando, assim como as influências herdadas (ADN) e as inclinações e ramificações de tudo o que foi acima mencionado. Isso requer conhecimento de como são as coisas, as leis e realidade da existência e práticas espirituais como formas de meditação e conseguir um estado de consciência desperto em que estamos conscientes de nós mesmos e as conexões divinas possíveis.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Rabita/Conexão

Rabita é a conexão do espiritual entre o mestre e seu estudante. Essa conexão se da no coração ou mente real. Portanto, a imagem acima possui cunho meramente ilustrativo, embora também aluda à transmissão de pensamentos e, consequentemente, de conhecimentos.

Rabita
: conexão espiritual entre uma pessoa e Allah, ou entre duas pessoas; prática sufi que consiste na conexão deliberada entre um sheik e seu estudante.

A razão pela qual o Sufismo funciona a longas distâncias é pela conexão que a pessoa estabelece com seu sheik. Ainda que você não esteja consciente desta conexão, ela existe e com o tempo sentirás. Quando você diz bismillah (você deve dizer isso diariamente muitas vezes) você está fazendo rabita com Allah. Cada vez que você pensa em alguém, há uma conexão ainda que seja leve. Assim é como realmente funciona este mundo – há diferentes níveis de atividades acontecendo em cada momento.

Podemos dizer que ao fazer Bayat [iniciação] com o sheik, o murid entra no campo energético do sheik e do sheik dele, e assim sucessivamente até o Profeta (s.a.w.s.) e cada vez que você pensa nessa conexão ela se reforça cada vez mais. No começo a realidade deste fato é puramente intelectual ou de fé, mas, com o tempo sua realidade se tornará cada vez mais tangível, tanto que você poderá fazer perguntas por meio do rabita e receber respostas – você pode fazer diretamente com Allah ou com o sheik.

Para um sufi, ou seja, alguém buscando um entendimento mais profundo, ou melhor, a verdadeira experiência do Islã e, ao final de contas, uma conexão com o próprio Allah, devemos pensar de uma forma científica. Ok, faça isso! Tudo o que eu posso lhe dizer acerca de como fazê-lo somente lhe ajudaria um pouco. Para começar precisamos conectarmos com um cabo já instalado. No começo não somos suficientemente fortes para fazer a conexão sem fio. O seu sheik e o sheik dele e etc., são como esse cabo necessário para passar a corrente para iniciar o processo.

As instruções verbais que o sheik da lhe ajudam a fazer as práticas necessárias para estabelecer a conexão, assim como para entender o que está acontecendo. 

Apesar do que algumas pessoas dizem, há uma hierarquia no Islã e no Sufismo. Primeiro Allah, depois Rasulullah (Muhammad, o Profeta), Ali, seus filhos e a linhagem de mestres que eles ensinaram. A chave da conexão é o amor. Devemos amar ao Profeta. Devemos amar aos pirs, devemos amar aos sheiks. O sheik ama os seus estudantes. Quanto mais esse amor do sheik pelos seus murids é recíproco mais forte será a conexão e o progresso do estudante.

Quando pedimos a permissão do sheik, dos sheiks dele, dos pirs e de Rasulullah, estamos expressando amor e respeito assim como cumprindo com a tradição de adab, bons modos, um requisito importante no Sufismo.

O rabita [entendido] desta forma não é de nenhuma maneira similar à adoração que os católicos prestam a Maria (as), aos santos e etc. A adoração a outro que não seja Allah reduz o mundo da pessoa, materializando sua visão e cortando qualquer conexão que ela pudesse haver tido com outros níveis mais altos da realidade. O rabita não é adoração, está simplesmente nos conformes da ciência energética sobre a qual a existência está baseada.   

Salam e wadud,

Sheik Mohammad Abdullah Ansari

Viagem até o centro de si mesmo


Por Mohammad Abdullah Ansari

Tenho dito que o primeiro passo na viagem espiritual é conhecimento. Isso não significa, de forma alguma, que o conhecimento vai levar você até a meta. Mas se você não sabe aonde vai ou por que, tampouco vai atingir a meta. Estudamos, lemos, escutamos mestres, para averiguar qual é a meta, onde está e como se alcança.

De forma básica todos sabem as respostas, mas há alguns erros que tenho visto nas pessoas pela forma que pensam ou realizam a viagem. Primeiro, a meta. Bem, se você é um sufi ou uma pessoa com alto conhecimento vai dizer que a meta é ALLAH, Yahveh ou Deus. Mas, o que significa isso? Um dos maiores obstáculos é pensar em um deus lá fora. Certamente você não possui um conceito tão material como as pessoas medianas, contudo, é difícil pensar em um deus que você não pode ver, e, por isso as pessoas pensam em Deus com [uma] forma humana, uma encarnação como alguns cristãos e hindus, ou como um velhinho sentado em uma nuvem ou no céu dispensando recompensas e castigos segundo os atos dos fieis. E não importa quantas vezes tenhamos ditos e quão forte é nossa crença na verdade de que Deus está em tudo, impregnado em todas as coisas incluindo a nós mesmos, ainda oramos como se estivéssemos falando com um deus lá fora.

Quando perguntaram a hazrat Ali (ra) se ele podia ver Allah, ele disse: “Não acreditaria em algo que não pudesse ver”. O que ele quis dizer? Que ele pode ver Allah? Para um crente de religião formal isso é quase uma blasfêmia, não poderia conceber tal coisa porque seu conceito, o conceito comum, é que nós existimos e existe Deus, duas coisas distintas que há no mundo material, que inclui aos seres humanos e há um deus conduzindo-o [o mundo material] de algum lugar isolado. Nós sufis, assim como pessoas em caminhos espirituais, dizemos que Deus está em tudo, dizemos que tudo o que existe está composto dos 99 nomes de Allah e atributos listados no Alcorão e muito mais. Cada nome é uma frequência de onda específica que em combinação com outras formam toda a matéria do universo.

Todos os nomes estão dentro de cada pessoa, estamos compostos dos nomes de Allah. Então, por que não somos santos? Espera!

Hazrat Ali disse que podia ver Allah. Não é algo intelectual como pensar que “esta coisa está feita dos nomes al-Matin, al-Jalil, al-Hakim, etc., não, é ver, realmente ver a energia divina. Não é tão diferente do que Carlos Castaneda, o aprendiz do xamã mexicano don Juan Matus, chamava “a segunda consciência”, como um interruptor que apertamos para trocar a maneira de ver. Quando você vê uma pessoa “má”, ou desagradável, ou ainda uma pessoa boa, mas deformada, a primeira impressão é sentir emoções negativas, mas se você aprender a ver a energia, poderia apertar o interruptor e ver as diferentes formas energéticas (nomes de Allah) em combinações que produzem o que vemos. Deus está ali, Sua energia, uma realidade que não pode ser vista com os olhos normais.

Contudo, para conseguir essa habilidade temos um caminho para percorrer com obstáculos e mal-entendidos. Inclusive, o título que coloquei é enganoso, a viagem ao “centro” do ser – como se Allah residira no núcleo do nosso ser – não é assim, Sua energia está presente em cada célula do corpo humano. Por que não somos santos? Por que estamos aqui nesta terra de maldade e de provas? Continua.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Ebook: Como suportar tudo e ser feliz

Livro do Sheik Mohammad Abdullah que aborda depressão e vários tipos de dores emocionais, bem como propõe um caminho para vencê-las e ser feliz.

Traduzido ao português por Rogerio Prado, um de seus estudantes, em linguagem fácil e acessível a todos.

Download gratuito!

Clique na imagem para ser direcionado ao site
onde você poderá efetuar o download do ebook.


Breve biografia do Sheik Ahmad Ar Rifa’i


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

Sayyid Ahmad ar Rifai nasceu no inicio do mês Rajab, do ano muçulmano 512 A.H (1119 D.C.), em Ummu Abeyde, Iraq. Faleceu no dia 22 de Jamadi al-Awwal no ano 578 A.H. (1183 D.C.) em Wasit, Basra, Iraq.

Seus pais foram Sayyid Ali Abu Abu’l Hasan e Fátima ul-Ansari bint Yahya.
Aleyyul Wasiti foi seu Sheik. Ahmad ar Rifai foi descendente de nosso Profeta (pb) através de ambas partes de sua família.

Antes de seu nascimento seu tio materno, um sheik famoso, viu o Profeta (pb) que lhe disse que seu irmão (o irmão do tio) teria um bebê varão que seria famoso e seria conhecido como Rifai e que quando chegasse a idade apropriada para o Sufismo deveria ser enviado ao Sheij Aleyyul Wasiti para sua educação e treinamento.

Existem muitos milagres atribuídos ao Hazrat Ahmad ar Rifai. Um dos mais conhecidos ocorreu quando tinha 43 anos, no ano 555 A.H. Estava no Hajj (a peregrinação a Meca) e foi a visitar a tumba do Profeta Muhammad (a paz esteja com ele). Hz. Rifai não estava usando a roupa de costume dos sayyids (descendentes do Profeta). Existe uma parte do mausoléu do Profeta reservado exclusivamente para parentes de sangue. O guarda não o permitiu entrar. Rifai estava sem a prova de que era descendente do Profeta. Hz. Rifai estava triste e gritou em direção à tumba, “As-salaamu aleikum, ya jeddi (A paz esteja contigo, oh ancestral)”. Nosso Profeta respondeu, “Wa aleikum salaam, ya waladi (e a paz esteja contigo, filho)”. A mão de Muhammad (pb) saiu da tumba e o Pir Ahmad ar Rifai a beijou. Quando as pessoas viram o milagre entraram em um estado de wajd (êxtases) e começaram a se apunhalar uns aos outros com facas e espadas. Ao passar o transe, havia pessoas estendidas no chão e sangue por todas as partes. Hz. Rifai curou a todos eles, devolvendo-lhes seu estado normal como si nada tivesse acontecido, e dali para frente passou a ser conhecido em todas as partes por ter o dom de curar.

Além disso, ele realizou muitos outros milagres. Hz. Rifai ficou conhecido por sua compaixão e amor para com todos. Um dia estava tirando um cochilo e despertou para realizar salah (ou salat), a oração ritual do Islã. Encontrou o seu gato dormindo encima de sua Khamisa (a camisa comprida usada pelas pessoas do Oriente Médio). Hz. Ahmad pediu algumas tesouras para sua esposa e cortou a parte da Khamisa em que o gato dormia para ir fazer a oração sem acordar o gato. Ao regressar, o gato tinha acordado e o Pir costurou a parte de sua roupa em seu devido lugar.

Uma vez Hz. Ahmad ar Rifai passou quarenta dias na floresta cuidando de um cachorro com lepra. Ao retornar para casa perguntaram por que ele tinha ficado tanto tempo com um animal sujo. Ele respondeu, “O que eu diria ao meu Criador quando morresse se eu não tivesse ajudado a uma de Suas criaturas?”

Hz. Ahmad ar Rifai foi admirado por suas características de caridade, paciência, compaixão e amabilidade. Junto com seu primo, Hz. Qadir al Yilani, foram os Sheiks mais destacados de seus tempos.

Expectativas, decepções e aceitação

Caderno de trabalho sufi Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari Tudo o que vemos, isto é, este mundo material e as coisas que lhe s...