segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Chega de rótulos


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

Há algum tempo contei para uma estudante de yoga, uma doutora, que no Tibete às pessoas pagavam os médicos enquanto estivessem sãs e deixavam de pagá-los se ficassem doentes. Ela respondeu que isso não funcionaria aqui.

Isso me fez pensar. Hoje em dia seria impossível que uma comunidade entrasse de acordo para fazer algo assim como a comunidade tibetana do passado. Por quê? Naqueles dias todas as pessoas da sociedade compartilhavam ideias iguais, todos acreditavam nas mesmas coisas e eram unidos. Todos sabiam seu lugar na sociedade e ninguém se rebelava, todos faziam sua parte. Podemos ver o mesmo em tribos “primitivas” e também nos tempos em que um profeta viveu com seus seguidores. Tão logo o profeta morria pouco a pouco a religião que Deus lhe revelou começava a ser distorcida e as pessoas voltavam para seus antigos hábitos.

Hoje em dia vemos que em qualquer país existe uma grande dispersão de ideias e maneiras de viver; não há concordância geral e por isso existe muito conflito.

É comum que pessoas “religiosas” se identifiquem com outras pessoas da mesma religião. Acreditam que sua religião é a melhor e que outras pessoas de sua religião são melhores e rejeitam as pessoas de outras religiões. Contudo, você compartilha as mesmas ideias e interpreta a sua religião da mesma forma que as outras pessoas da sua religião? Nos EUA onde a maioria das pessoas é cristã protestante deve haver centenas de igrejas cristãs de diferentes seitas com ideias um tanto diferentes das outras igrejas cristãs protestantes. Na América Latina onde a maioria das pessoas é católica, cada pessoa tem sua própria forma de ser católica, segue algumas leis da Igreja e ignora outras. Não há consenso.

No mundo atual há grupos que se rotulam muçulmanos e que matam em nome de Deus e inventam pretextos “islâmicos” para cometer atrocidades contra todo mundo. Até há países que adotaram a lei islâmica (xaria), mas suas interpretações acabam sendo não-islâmicas e podemos dizer o mesmo sobre o hinduísmo.

A verdadeira realidade é que você pode ter mais em comum com uma pessoa de outra religião do que com alguém que professa a mesma fé que você. Cada vez que você rotula algo, esse algo se limita, é distorcido e o pior, a pessoa que rotula outra ou a religião dela limita o seu próprio entendimento e até encolhe seu cérebro.

Em nome da religião vimos atrocidades ao longo da história, a inquisição, a Segunda Guerra Mundial e extermínio de judeus; Israel contra palestinos, os talibãs no Afeganistão, os fanáticos “islâmicos” no Iraque e na Síria nos dias atuais, e muitíssimas outras mais desde o princípio dos tempos.

Deus revelou a ciência de como são as coisas e como podemos nos harmonizar com Ele, mas a fórmula Dele para fazer isso não se encontra na maneira em que as religiões de hoje em dia são entendidas e praticadas. Todas as religiões pregam o não julgar, é hora de colocar isso em prática, além de desfazermos de rótulos e preconceitos. É hora de usar o cérebro. Um muçulmano é alguém que se submete a Deus – não conheço ninguém que realmente esteja submetido a Deus, então não há muçulmanos de verdade. Existem católicos de verdade? Duvido! Tampouco existem judeus de verdade e nem budistas.

Todavia, há pessoas lutando para serem muçulmanos, cristãos, católicos, judeus, budistas e etc. Seguimos com eles sem importar os rótulos. Vamos buscar a conexão com o Todo-poderoso sem importar o nome que usamos por Ele ou por nós mesmos.

A forma de amar a Deus é através do amor por Sua criação – ama ao teu próximo.

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