Caderno de trabalho sufi
Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari
Tudo o que vemos, isto é, este mundo
material e as coisas que lhe são próprias, é distorcido pelo que temos na
cabeça, ou seja, nossas experiências, tendências, crenças, emoções, opiniões,
etc. Não vamos ver a realidade deste mundo e entender nossas vidas até
adquirirmos o conhecimento de nós mesmos. Podemos, entretanto, ter emoções,
crenças e opiniões, mas temos que chegar ao ponto em que podemos ver isso como
objetos separados de quem nós somos; são parte do veículo (o corpo) em que
habitamos temporalmente durante a viagem pela Terra, por esta vida material.
Quando você está numa situação da vida cotidiana, o cérebro está processando em
todo momento, comparando e avaliando tudo baseado em experiências passadas, e
as emoções estão reagindo e influenciando o cérebro e o corpo. Estar consciente
de tudo isso e ao mesmo tempo ver a situação com os olhos do ser real, sua
mente (a consciência do coração) é a única maneira de entender a realidade
deste mundo.
Em todas as tradições espirituais é dito
que o mundo é uma ilusão, não é real. Parte da ilusão a que se referem é o que
foi mencionado acima, outra parte é que este mundo é uma criação de Deus feita
especialmente como parte de nosso desenvolvimento espiritual – a alma chega
aqui incompleta e aqui na Terra e universo material, há tudo o que é necessário
para chegar a ver a Deus e entendê-lo em um grau suficiente para continuar
nossa viagem espiritual em outra etapa de nossa vida eterna. Segundo alguns
caminhos espirituais esta etapa pode incluir muitas vidas, isto é, pode ser que
nasçamos várias ou muitas vezes até nos desenvolvermos suficientemente para
“escaparmos do ciclo de nascer e morrer”. Ou pode ser que existam outras
dimensões ou estados aonde iremos depois da morte do corpo. Em todos os casos,
o corpo vai morrer e nós vamos continuar de uma forma ou de outra, e como isso
vai ser depende das decisões que tomarmos e o que fizermos durante este período
relativamente curto.
Apesar de tudo o que acreditamos ou
lemos sobre os fatos desta vida e o que vai acontecer, só existe uma realidade
e não vamos entendê-la lendo ou ouvindo o que alguém diz a respeito; temos que
experimentá-la por nós mesmos e esse conhecimento vai chegar com trabalho.
Nós queremos tudo do nosso jeito e ai
começa a ilusão. Todo o dia temos ideias sobre o que queremos, desde as coisas
pequenas como chegar ao trabalho sem problemas e, de repente, você encontra um
congestionamento de tráfego terrível, você vai a um restaurante esperando comer
tal coisa, o seu prato favorito, e não tem, você tem uma reunião importante e
as pessoas chegam muito atrasadas – se você observar atentamente verá que
nossas expectativas e desejos, assim como as decepções são muito mais
frequentes do que estamos conscientes, de fato, são contínuas todo o dia. As
ramificações são tremendas, nos afetam de muitas formas, mental, emocional e
fisicamente, sem falar nos danos ao nosso desenvolvimento espiritual.
Trabalho
Nossas expectativas e nossas reações à
incerteza da vida são como véus que cobrem a realidade deste mundo, obscurecem
a divindade do mundo, confundem nossos sentidos exteriores ou impedem o
desenvolvimento de sentidos interiores e a possibilidade de ver através da fachada
ilusória da matéria deste mundo para enxergar sua realidade divina, ver a Deus.
A todo instante você espera algo, mas
qualquer coisa pode acontecer; não temos que deixar de desejar, mas para abrir
o canal do entendimento real e tirar as nuvens que escurecem a visão interna e
criam uma ilusão, devemos estar conscientes do que está acontecendo dentro, no
cérebro, as emoções, e no corpo, e separarmos deles assim como aceitar as
alternativas ou [eventos] inesperados sem reações negativas. De fato, podemos
desfrutar qualquer mudança mesmo se for contra nossos desejos ou se nos custar
trabalho. Este controle de nós mesmos é essencial para progredir
espiritualmente e cumprir com nossa missão na vida. É trabalho de cada momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário