por Mohammad Abdullah Ansari
Podemos entender essa expressão de duas
maneiras: [de forma imperativa], [alguém] está me perturbando, então, que
deixe de fazê-lo, ou o que [alguém] está fazendo não me perturba.
Qual é a melhor? Qual você prefere?
Há muitos anos houve uma luta de boxe
entre Muhammad Ali e George Forman. Forman era um boxeador corpulento e temido
por sua força, que lutava como uma escavadeira; avançava e nunca retrocedia.
Ali, sempre era o palhaço, relaxado, astuto, furtivo e sorrateiro. Ali se
gabava de ter uma técnica especial para Forman e que ia acabar com ele.
Começou a luta. Forman atacou Muhammad
Ali com todo o seu formidável poder. Ali se inclinava contra as cordas
cobrindo-se com os braços, cotovelos e as luvas. Forman aproveitava a postura
frágil de Ali, golpeando-o incessantemente, parado em frente de Ali para
encurralá-lo. Todo mundo estava surpreso, parecia que finalmente o famoso
linguarudo ia receber o que merecia. Passou todo o primeiro round assim. O
segundo round começou. Ali foi até às cordas outra vez e Forman o seguiu, dando
golpes sem piedade nem descanso. Mas, espere, Ali estava sorrindo, estava
zombando de Forman, desafiando-o a bater mais forte. Forman o seguiu, golpeando
e golpeando, mas seus golpes só encontraram braços, luvas e o estômago de pedra
de Ali. Durante o descanso entre os rounds o treinador de Ali gritava com ele:
“Que demônios você está fazendo? Ele vai te matar. Você está perdendo a luta”.
Ali só sorria. O terceiro round foi igual aos dois primeiros. Ali nas cordas e
Forman golpeando furiosamente. Mas logo os golpes começaram a ter menos força,
foram menos temíveis. Forman estava cada vez mais cansado, estava perdendo sua
força. Ali, contudo, estava sorrindo enquanto recebia tudo o que Forman tinha
para dar. Depois de uns quatro rounds, Forman estava exausto, não era mais que
uma sombra do boxeador que costumava ser, que fazia tremer seus oponentes.
Agora Ali mudou sua atitude completamente, começou a dançar e a dar golpes,
pum, pum, pum, um após o outro. Forman estava inutilizado, quase não podia
levantar seus braços para se defender. Em poucos segundos Forman estava jogado
no chão, nem tentou se levantar. A luta tinha terminado. Muhammad Ali ganhou
com sua técnica que ele chamou de “rope-a-dope” (rope = corda ou amarrar, dope
= tonto).
A vida é como um boxeador do estilo de
George Forman. Como Forman nunca havia sido vencido até que encontraram uma
técnica adequada, todos caem com os golpes da vida se não aprendem a ser
flexíveis e fluidos. Meu mestre disse que para chegar à meta (Deus) devemos
aguentar. Em todos os ensinamentos dos sábios desde sempre nos aconselharam
aguentar pacificamente os golpes e humilhações que sofremos na vida. Mas para
dar um passo mais adiante, é ainda melhor aprender a não nos perturbar.
Queremos chegar ao estado em que nada nos perturba. Às vezes como teflon – tudo
o que nos ataca salta, e, às vezes, como vapor em que os ataques passam através
de nós sem nos causar dano.
Este estado não tocável é o estado de
nosso ser real, quem realmente somos. Já está, já existe. Só somos feridos
quando estamos vivendo na forma terrena, a personalidade criada pelo nafs, mais
ou menos como o ego. Sem ego, somos como Muhammad Ali, absorvendo tudo o que a
vida nos lança e rindo. Como na meditação de flutuar, que é uma prática para
alcançar esse estado, podemos ser como corpos sem substância, imunes ao ataque.
Para nós nos tornarmos imunes, temos que
deixar de existir. Isto é, temos que sair do caminho e permitir que Deus atue
através de nós. Não somos Deus, mas podemos ser instrumentos Dele se
aprendermos a nos submeter a Sua vontade. Nossa insistência para que as coisas
sejam da nossa maneira é uma negação da Realidade de Deus. Este mundo de Deus é
bonito. Por ser de Deus tudo tem seu motivo. Só os guerreiros (os que lutam na
guerra santa – a guerra interna) sabem escolher. Temos o poder de não nos
perturbarmos por nada. Até podemos desfrutar de tudo.
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