sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Allah, a meta do Sufi


Por Mohammad Abdullah Ansari

A meta da vida do Sufi é alcançar o entendimento íntimo de Deus, o amor por Deus. Mas, como acontece em qualquer busca, o Sufi deve ter alguma ideia do que está procurando. Então se pergunta: Quem ou o que é Deus?

A pedra angular da fé para todos os muçulmanos, incluindo os Sufistas, é a afirmação la ilaha illa llah, isto é, não existe deus exceto Deus. Os muçulmanos chamam a Deus de Allah, porque este termo não indica gênero masculino ou feminino. Allah não pode ter gênero, porque isto seria uma limitação, e Allah não pode ter limites. Os muçulmanos creem que Deus é Onisciente, Onipotente, a Causa não causada de toda a criação. Allah carece de limites em toda dimensão, infinita e eternamente: é o Criador sem forma de todas as formas. E não pode ser criado nem destruído.

A física moderna nos da alguns indícios sobre a natureza deste Ser ilimitado. A única matéria no universo que nós sabemos que não pode ser criada nem destruída é a energia. A energia pode ser entendida como a capacidade de realizar trabalho, como a força que está detrás de toda ação, e como a ação mesma. A energia é um modo de luz/força, aquilo que emite a radiação e aquilo que é radiado. É ao mesmo tempo substancia e movimento.

Para os Sufis, Allah é ao mesmo tempo o não criado e o Criador, a energia fundamental que tem existido antes mesmo que o tempo. O conceito Sufi de Deus inclui também Sua consciência: Allah tem conhecimento e poder infinito para atuar como Ele quiser. Em outras palavras, Allah é a energia consciente do universo, conhecedor e soberano de tudo quanto existe; ilimitado no tempo e no espaço.

No Alcorão Sagrado, Allah se define a si mesmo como: "[...] a luz dos céus e da terra" (24: 35). Assim como entendemos que a luz é energia, concebemos a Deus como energia. Allah é energia pura e sem forma, mas com o potencial para criar todas as formas. O poder de Allah é ao mesmo tempo a energia empregada para criar as formas, e a energia/substância na qual essas formas consistem. O ponto de vista sufi é apoiado pela pesquisa científica moderna: "‘A luz' cria nosso mundo de padrões e formas. De acordo com muitos outros cientistas, definimos o domínio da 'luz' como a gama completa do espectro eletromagnético nas teorias da física moderna. [...] Tudo o que existe no mundo físico representa várias manifestações da ‘luz.'”

Para os sufis, a consciência eterna e total de Allah, que constitui uma de Suas qualidades inerentes, é outro aspecto dessa “luz” com a qual Ele se descreve a Si mesmo. Partindo do conceito de Allah como sendo a energia total e consciente do universo, podemos entender a declaração de fé, "la ilaha ila llah" como a expressão espiritual de uma lei científica. Não pode haver nenhum deus exceto Allah, porque a existência de qualquer outro poder limitaria a Deus, que não tem nenhum tipo de limite.

Ao aprofundar mais no conceito de Allah como sendo energia, nos encontramos com outra noção importante. Se Allah é tanto a substância como o Criador da criação, não pode existir nada mais que Allah. Não pode existir nenhum lugar onde Allah não esteja, porque isso implicaria que existe algo além de Allah, alguma outra forma de energia. E se existe outra forma de energia, isto limitaria a Allah. Então o sufi entende sua declaração de fé desde a perspectiva mais profunda de que nada existe exceto Allah.

Toda a criação consiste na substância de Allah. A matéria básica de todas as coisas está contida em Sua única realidade. Os sufis chamam esta substância espiritual/material os Noventa e Nove Nomes ou os Formosos Nomes de Allah. Estes Nomes são os diversos atributos de Deus, que a essência de Allah entesoura em um estado potencial. No ato da criação, esta energia potencial se converte em energia cinética.

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