quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O Sufismo


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari 


Todavia eu tenha mencionado o Sufismo muitas vezes em meus escritos, tenho evitado tratar diretamente sobre o tema para não parecer que estou praticando proselitismo, procurando converter pessoas ou recrutar membros para uma seita. Sendo que tenho uma mensagem muito importante para dar não quis confundir o assunto ou adiar a minha audiência para parecer que tenho motivos distorcidos. As pessoas são esquisitas, querem mudar sem mudar. Isto é, elas intuem que algo está mal, ou que necessitam de alguma coisa para aliviar sua dor, ou têm emoções e sentimentos que lhes perturbam, ou não encontram respostas em seu modo pessoal de vida, e procuram algo para se ajudar, no entanto, estão presas e não querem deixar ideias e formas de ser que as deixam paralisadas e expostas a incerteza e ataques de forças baixas. Tão ilógica que é esta condição humana, isto de querer mudanças sem mudar, nem é incomum e nem um impedimento para aproveitar a óptica do Sufismo. Como você vai ver através da explicação a seguir, o Sufismo não exige uma conformidade estrita que cria robôs, nem exige que você acredite em algo que não se encaixa em tua maneira de ser e nem deixar de acreditar em algo até que você queira.

O que é o Sufismo? Bem, se você procurar em uma enciclopédia ou na Internet o que você encontrará são descrições da natureza exterior do Sufismo, como especulações sobre a origem do nome, que é o misticismo islâmico, os nomes de diferentes ramos ou escolas, a iniciação ou algumas práticas como a dos derviches giratórios. Mas é muito superficial e não é realmente o que o Sufismo é. Se você quiser conhecer essas coisas, procure em uma enciclopédia ou na Internet – vale a pena saber isso, mas vou falar mais da essência do Sufismo e como é que te convém.

É verdade que o Sufismo é o misticismo do Islã. Todavia, não começou com o Islã. De todas as formas começamos ali. O que é o Islã e o que é misticismo? O Islã é a religião profética monoteísta mais recente. É parte da linhagem que incluem o Judaísmo, o Cristianismo (incluindo o Catolicismo) e seus profetas Moisés e Jesus (a paz esteja com eles). No ano 570 D.C. o profeta Muhammad (a paz esteja com ele) nasceu. Aos 45 anos de idade Muhammad recebeu o chamado de Deus para pregar a mensagem do Islã. Deus lhe revelou um livro chamado o Alcorão (o critério) por volta de um período de 23 anos. Tampouco é necessário enumerar todos os detalhes da religião do Islã. Seu nome é suficiente – o Islã, o que significa submissão a Deus. É a mesma mensagem de todos os profetas desde o princípio dos tempos. A mensagem de Deus ao ser humano sempre tem sido igual em sua essência: submeta-se a Ele. Uma mensagem singela entregue aos mensageiros para conduzir as pessoas. Existiram milhares de profetas em todas as partes do mundo. Mas pouco tempo depois da morte de um profeta, o homem começa a alterar a mensagem original para torná-la mais complicada, ritualizada e acrescenta hierarquias. Resulta uma religião muito distanciada da singela mensagem que o mensageiro de Deus, o profeta, revelou para as pessoas originalmente. Então, Deus manda outro profeta para retornar as pessoas ao caminho reto de novo. Este processo sempre tem sucedido desde que Adão e Eva caminhavam sobre a terra. Leia os evangelhos para ver como Jesus falava dos Fariseus ou da hierarquia do Judaísmo de seu tempo; disse que ele veio para retornar as pessoas para a lei, a lei mosaica, a qual havia sido perdida em um mar de inventos e editos daqueles que se dizem eruditos e religiosos.

A religião, suas regras e rituais constituem a forma da mensagem de Deus para as pessoas em geral. Com esta mensagem em todos os tempos sempre veio um ensinamento mais profundo, muitas vezes é chamado de ensinamento oral porque diferente do ensinamento exterior que está escrito em um livro como a Bíblia e o Alcorão, o ensinamento oral não pode ser transmitido com palavras nem é entendível com a razão humana. Requer uma consciência elevada. Este processo de ensinamento é realizado diretamente entre um mestre e um estudante. O Profeta do tempo ensina a alguns de seus companheiros íntimos e eles ensinam a outros e assim sucessivamente se forma uma linhagem de mestres. Às vezes formam escolas ou “sociedades”, mas o processo sempre permanece pessoal entre mestre e estudante, inclusive quando são parte de um grupo de “buscadores da Verdade”. Isto se chama misticismo. Enquanto a pessoa normal segue a religião o melhor que pode e espera que, ao morrer, suas ações boas pesem mais que seus feitos maus e que Deus a trate com misericórdia, o místico ou estudante do ensinamento oral (ou oculto), não quer somente ler ou escutar as leis e as regras da religião, ele ou ela querem experimentar a Verdade em si mesmos, viver a Verdade; ele ou ela não estão satisfeitos em crer em Deus somente, mas necessitam conhecê-lo internamente. O místico quer saber não acreditar. Quer entrar no Reino dos Céus aqui mesmo nesta vida e aqui na terra firme.

Como a religião, esses grupos, escolas ou sociedades, assim como o ensinamento “oculto”, começam a degenerar-se com o tempo por várias razões que incluem o ego, o charlatanismo e o materialismo.

O Sufismo (tasawwuf em árabe) em sua forma atual é o ramo místico do Islã. O Profeta Muhammad ensinou o significado interior ou profundo da mensagem de Deus a dois de seus seguidores mais próximos, Abu Bakr e Ali ibn Abu Talib. Eles são os pais do Sufismo. Os mestres autênticos de hoje em dia todos são parte de uma linhagem de mestres que começou com um deles.

Então o Sufismo é a forma mais atualizada do ensinamento oral. Não é, em sua essência, diferente da Cabala ou Gnose ou de outras formas que existiram paralelamente com o ensinamento aberto, ou escrito, das outras tradições anteriores que começaram com profetas de Deus.

Bem, agora em que consiste o Sufismo? Se você leu meus escritos até agora você sabe em que consiste. Pode-se dizer que é a ciência da religião ou a essência da religião na prática – não importando qual religião. Todas as sendas espirituais buscam a unificação com o Criador. Isso significa chegar a um nível em que você é guiado por Deus em todas as tuas atividades. Que você permaneça em um estado de submissão total a Deus.

Como? Se você procurar uma definição clara do que é e como funciona o Sufismo, você nunca a encontraria. O Sufismo é a senda sem forma. Sendo todos nós diferentes, requeremos uma senda diferente, feita na medida, por assim dizer. Um sufista aprende a escutar o seu coração, onde emana a direção divina. Onde está o coração espiritual? Oculto atrás de um montão de véus – o apego a este mundo, o acomodamento familiar, social, cultural, as inclinações negativas herdadas, o medo e todas as emociones negativas que geram o medo e o ego. As sendas espirituais usam práticas para arrancar os véus e reduzir o ego para que possamos ver e escutar o coração. No Sufismo existem duas práticas básicas comuns a todas as tariqas sufistas (caminhos ou escolas), o zikr, que é a repetição dos 99 nomes de Allah (Deus) sozinho ou em grupo e a conexão psíquica entre o sheik (mestre) e o murid (o estudante). Além dessas duas, as práticas variam de mestre para mestre conforme ao seu estilo pessoal e as necessidades de seus estudantes. Inclusive dentro de uma escola os métodos variam de um estudante para outro. Ainda assim, se você colocar todos os sheiks sufistas juntos em um quarto, não haveria nenhum desacordo entre eles. Todos chegariam ao mesmo lugar mesmo sobre diferentes caminhos. Somente existe uma Verdade, mas há uma multidão de rotas (caminhos) para se chegar; de fato, uma diferente para cada pessoa.

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