Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari
Um professor foi até um pomar de mangas e começou a estudar
as folhas e os galhos no chão. Notava os diferentes tons de cor das folhas e a
espessura dos galhos, as posições relativas um dos outros e os estados de
decomposição e caracterizou-os e anotou tudo.
Outro dia voltou com um grupo de estudantes e começou a
explicar sobre as folhas e os galhos. Os estudantes o escutaram com atenção e
muito interesse, exceto um mais inteligente que pegou uma manga e começou a
comê-la.
Vemos algo semelhante na religião e nas sendas espirituais
de hoje em dia, vemos isso também em nossa senda, o Sufismo. Há pessoas que
estudam a religião, todos seus aspectos e ramificações, quando começou, com
quem e onde. Estudam as influências antes e depois. Estudam as práticas e tudo
o que dizem os sábios do passado, como isso afetou as sociedades e como foi
incorporada na vida cotidiana das pessoas e nas políticas do governo.
Estes historiadores sabem toda a história e muitíssimos
fatos da religião e/ou caminho espiritual. Há outras pessoas que leem os livros
dos historiadores, se identificam com a religião, ou senda analisada, e a
adotam como sua.
Tudo isso é parte de um labirinto de ensinamento que é
necessário para algumas pessoas, leem e estudam e, se é o seu momento, deixam
tudo isso para provar a manga, fazer o trabalho, como quando Hazrat Yalaluddin
Rumi, um renomado e destacado mestre do Islã, conheceu Shams-i-Tabrizi e jogou
fora todos seus livros para embarcar na mera prática. A fruta não é encontrada
em nenhum livro ou lindos ditos, mas na prática.
Os livros e mestres despertam o interesse, a necessidade e
apontam o rumo, mas o indivíduo tem que fazer o trabalho sozinho. Muitas
pessoas nunca deixam de ser observadoras, estudantes na superfície do caminho
espiritual sem provar o fruto, desfrutam os fatos e detalhes frios imaginando
ter chegado numa parte do caminho.
O Sufismo é um caminho de ação e trabalho. A senda
espiritual é um trabalho interior de tempo integral, de aprendizagem pessoal e
de conhecer-se a si mesmo. Toda a verdade é encontrada dentro [de nós] com
dhikr (mantra), introspecção, contemplação, meditação, auto-observação e
observação do mundo. Os mestres existem para estimular e explicar de forma
geral o caminho do estudante, mas o trabalho é o estudante que tem que fazer.
Hoje em dia tudo é superficial, música pop, cultura pop,
psicologia pop e até Sufismo pop. Não caiam nisso, vão ao miolo, provem a
manga, comam o fruto. Deus reside em tudo, mas há uma capa pop criada dos egos
do ser humano ocultando a Verdade. Para vê-la a pessoa tem que despertar e
manter-se desperta.
Leiam para se manterem rumo à meta, mas não esperem
encontrar a “iluminação” num livro. Leiam para se animarem, mas nada se compara
com o que alguém pode encontrar dentro de si mesmo. O Anjo Gabriel visitou ao
Profeta (s.a.w.s.), abriu seu peito e colocou em seu coração um livro, o livro
do conhecimento. Essa mesma coisa aconteceu com os outros profetas e pessoas
iluminadas ao longo da história. Este mesmo ensinamento sempre existiu, não
começou com o Sufismo e com o Islã. De fato, os nomes limitam o entendimento da
realidade. Sou muçulmano e sufi não porque sejam os únicos caminhos, mas porque
foram as últimas revelações da Energia Divina, os mais atualizados (ou menos
alterados). Como diz o Tao Te Ching, “Aquele que pode explicar-se com palavras
não é o Tao”. Na realidade não podemos ser muçulmanos e sufis, somos só
viajantes e, rumo à conexão, a unificação com o não explicável.
Uma joia de sabedoria. obrigado, precioso mestre.
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