(parte da resposta de algumas dúvidas de um leitor)
Você acreditaria em mim se eu te dissesse que o Islã sempre
existiu? Sim, todavia a religião como um conjunto de regras, rituais e forma
exterior começou com o Profeta Muhammad (a paz esteja com ele), o Alcorão e o
Profeta designaram o começo do Islã com o Profeta Ibrahim (Abraham), sendo ele
o primeiro em tornar formal uma religião monoteísta conscientemente. Isto é,
existem regras, rituais e uma forma exterior, mas existe também a mensagem – a
Verdade. A Verdade, que é Deus, não muda e isso é o que se encontra na essência
de todas as religiões verdadeiras. Elas vêm de Deus através de Seus
mensageiros. Sua forma exterior está de acordo com as condições do tempo e das
pessoas ou público alvo – para aqueles a quem a mensagem está dirigida. (Interessante,
o Islã sendo a religião universal, tem menos forma exterior, rituais e regras
que as demais religiões.)
Para ser mais sucinto digamos que somente tem existido uma
religião. Ela tem tomado vários aspectos diferentes ao passar do tempo por
razões práticas (Deus é muito prático), mas sua essência fica igual, não muda.
Deus é Deus e Deus não muda, mas todo o demais sim, muda.
No entanto, o Sufismo sempre existiu sendo a essência da
religião. Não vem de nenhuma outra filosofia – é a mesma, com roupa diferente
(outra aparência). Os segredos do Antigo Egito? Sim. Gnosticismo? Sim. A
Cabala. Sim. O Sufismo é a versão mais recente da ciência espiritual ou
esotérica. Por quê? Por que existem novas versões? São como os carros – o
modelo do ano? Pois, de alguma forma sim. A verdade não muda, mas as pessoas
sim. E não somente mudam as pessoas, mas as pessoas estão sujeitas a influência
do ego (o nafs em árabe – um conceito muito amplo do qual podemos tratar em
outra parte). Isto é, o Judaísmo de hoje não é a religião que Moisés trouxe. O
Cristianismo e o Catolicismo estão muito distantes do que pregou Jesus (um
verdadeiro sufi) e agora o Islã está também em processo de degeneração. Em cada
época as sociedades iniciais existiam para, primeiro, os que quisessem
experimentar a Deus pessoalmente e mais adiante também para salvar a religião
das inovações (ou perversões, distorções, desvios...). A Cabala (não a Cabala
das revistas e livros de “superação”, mas a verdadeira) é idêntica ao Sufismo
em sua essência - palavras e organizações diferentes, mas igual em sua
essência. A diferença de uma forma da Verdade de ontem e a de hoje é que a
atual (de qualquer época) é visualizada por Deus e as de ontem foram
modificadas pelas pessoas.
E como você também aludiu, existe somente uma Verdade, mas
muitos caminhos para se chegar a essa verdade – de fato, cada pessoa é
diferente e necessita tomar uma senda (escolher um caminho) diferente dos
demais. Outra distinção entre a religião e a escola iniciatória: a religião (em
sua forma original) é como a verdade genérica e as escolas iniciatórias levam o
individuo até Deus com ensinamentos feitos na medida para ele (o indivíduo). Um
verdadeiro mestre sabe o que seus estudantes necessitam para a viagem e lhes da
alguns exercícios e sugestões especificamente para ele (e diferente de uma
filosofia, trabalha também em outro plano e dimensão para ajudar aos seus
estudantes).
De igual maneira, existem 20 ou 30, ou quem sabe quantas
tariqas (escolas) sufis. Por quê? Porque todos nós somos diferentes e porque
somos diferentes caímos em categorias, por assim dizer. Assim que se meu Sheik
(Sheik Taner Ansari, um turco que vive nos EUA) se reunisse com qualquer outro
sheik de qualquer outra tariqa, eles concordariam em tudo (exceto talvez para
que times de futebol torcem). Todavia terão personalidades muito diferentes e
suas maneiras de ser se encaixam em grupos determinados de procuradores da
verdade (existem razões espirituais para isso também).
Voltaremos a nos falar!
Sheik Mohammad Abdullah
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