sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Um pouco mais a respeito do Islã e do Sufismo


(parte da resposta de algumas dúvidas de um leitor)

Você acreditaria em mim se eu te dissesse que o Islã sempre existiu? Sim, todavia a religião como um conjunto de regras, rituais e forma exterior começou com o Profeta Muhammad (a paz esteja com ele), o Alcorão e o Profeta designaram o começo do Islã com o Profeta Ibrahim (Abraham), sendo ele o primeiro em tornar formal uma religião monoteísta conscientemente. Isto é, existem regras, rituais e uma forma exterior, mas existe também a mensagem – a Verdade. A Verdade, que é Deus, não muda e isso é o que se encontra na essência de todas as religiões verdadeiras. Elas vêm de Deus através de Seus mensageiros. Sua forma exterior está de acordo com as condições do tempo e das pessoas ou público alvo – para aqueles a quem a mensagem está dirigida. (Interessante, o Islã sendo a religião universal, tem menos forma exterior, rituais e regras que as demais religiões.)

Para ser mais sucinto digamos que somente tem existido uma religião. Ela tem tomado vários aspectos diferentes ao passar do tempo por razões práticas (Deus é muito prático), mas sua essência fica igual, não muda. Deus é Deus e Deus não muda, mas todo o demais sim, muda.

No entanto, o Sufismo sempre existiu sendo a essência da religião. Não vem de nenhuma outra filosofia – é a mesma, com roupa diferente (outra aparência). Os segredos do Antigo Egito? Sim. Gnosticismo? Sim. A Cabala. Sim. O Sufismo é a versão mais recente da ciência espiritual ou esotérica. Por quê? Por que existem novas versões? São como os carros – o modelo do ano? Pois, de alguma forma sim. A verdade não muda, mas as pessoas sim. E não somente mudam as pessoas, mas as pessoas estão sujeitas a influência do ego (o nafs em árabe – um conceito muito amplo do qual podemos tratar em outra parte). Isto é, o Judaísmo de hoje não é a religião que Moisés trouxe. O Cristianismo e o Catolicismo estão muito distantes do que pregou Jesus (um verdadeiro sufi) e agora o Islã está também em processo de degeneração. Em cada época as sociedades iniciais existiam para, primeiro, os que quisessem experimentar a Deus pessoalmente e mais adiante também para salvar a religião das inovações (ou perversões, distorções, desvios...). A Cabala (não a Cabala das revistas e livros de “superação”, mas a verdadeira) é idêntica ao Sufismo em sua essência - palavras e organizações diferentes, mas igual em sua essência. A diferença de uma forma da Verdade de ontem e a de hoje é que a atual (de qualquer época) é visualizada por Deus e as de ontem foram modificadas pelas pessoas.

E como você também aludiu, existe somente uma Verdade, mas muitos caminhos para se chegar a essa verdade – de fato, cada pessoa é diferente e necessita tomar uma senda (escolher um caminho) diferente dos demais. Outra distinção entre a religião e a escola iniciatória: a religião (em sua forma original) é como a verdade genérica e as escolas iniciatórias levam o individuo até Deus com ensinamentos feitos na medida para ele (o indivíduo). Um verdadeiro mestre sabe o que seus estudantes necessitam para a viagem e lhes da alguns exercícios e sugestões especificamente para ele (e diferente de uma filosofia, trabalha também em outro plano e dimensão para ajudar aos seus estudantes).

De igual maneira, existem 20 ou 30, ou quem sabe quantas tariqas (escolas) sufis. Por quê? Porque todos nós somos diferentes e porque somos diferentes caímos em categorias, por assim dizer. Assim que se meu Sheik (Sheik Taner Ansari, um turco que vive nos EUA) se reunisse com qualquer outro sheik de qualquer outra tariqa, eles concordariam em tudo (exceto talvez para que times de futebol torcem). Todavia terão personalidades muito diferentes e suas maneiras de ser se encaixam em grupos determinados de procuradores da verdade (existem razões espirituais para isso também).

Voltaremos a nos falar!


Sheik Mohammad Abdullah

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