quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Bad Vibes (Más Vibrações)


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

Todos experimentamos más sensações quando alguém de mal humor, com raiva ou deprimido entra no cômodo onde estamos. Estamos absorvendo suas más vibrações? Não há dúvidas que viver com pessoas deprimidas ou com constante raiva é desagradável, mas, realmente somos afetados pelas vibrações de outras pessoas?

Antes de continuar é importante destacar que sim, estamos rodeados de energia, por todo tipo de vibrações, e muitas têm efeitos tangíveis em nosso corpo. Nossa situação energética pode ser caracterizada brevemente pelo que segue:

Tudo é uma forma de energia e isso inclui a nós mesmos, o corpo e o cérebro com seus pensamentos e as emoções. A ideia de que o corpo é uma unidade sólida é uma ilusão. Somos feitos de átomos, partículas quase sem substância. A realidade de nosso corpo se estende para fora, longe de nossa habilidade de percepção, e inclusive os pensamentos e emoções formam uma área que irradia ao redor do corpo físico. Dentro de nós há um caos de energia, desequilíbrios causados por nossas atitudes, pensamentos e emoções negativas. O ambiente externo que nos rodeia também está igualmente em um estado de caos refletindo nosso estado e o de outras pessoas, assim como condições alheias, naturais ou não naturais.

Nossas emoções e pensamentos são ondas, frequências de energia que sintonizam com frequências alheias similares, atraindo ou afastando boas ou más vibrações (energias) que formam acontecimentos reais. É comum que quando uma coisa dá errado, outras situações parecidas se seguem – não é uma surpresa, a energia negativa sintoniza com outras energias iguais que se acumulam – a menos que um poder positivo rompa a cadeia.

Igualmente [acontece com] o corpo e a saúde. O corpo tem redes de energia (Chi ou Prana), energia vital. Se há bloqueios no fluido desta energia, problemas tanto físicos quanto emocionais se desenvolvem. É um círculo vicioso, os bloqueios são o resultado de atitudes, pensamentos e emoções negativas e os bloqueios da energia vital provocam mais sensações negativas. Por essa interconexão entre a mente e o corpo, são recomendadas certas formas de exercícios, aqueles de que tratam esta série de escritos.

O que Jesus disse? “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6:33). Temos que primeiro por em ordem nossas casas (o corpo, a mente e as emoções), trabalhar em nossas atitudes, pensamentos e emoções tirando todo o negativo, mudando nossa maneira de ser com um foco em Deus.

Tudo é uma questão de manejo de energia. E a energia está relacionada com tudo o que está acontecendo ao redor – em relação a nós isso se refere ao nosso corpo, nossos pensamentos e moções. A energia e o ambiente se refletem mutuamente. Lembre-se que este mundo é baseado no livre arbítrio, é o princípio principal pelo qual estamos aqui na Terra. A energia, boa ou má, que nos afeta de forma boa ou má é uma questão de qual dessas aceitamos. Aceitar implica uma ação consciente, uma decisão consciente. Dentro das decisões que temos que tomar para evitar a entrada das “más vibrações” está a decisão de fazer certas práticas tanto físicas como mentais.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

As imagens religiosas, a energia e a conexão divina


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

O Islã proíbe fazer imagens do Profeta Muhammad para que ninguém o adore no lugar de Deus ou o faça um deus. Nas sinagogas e nas casas dos judeus não é encontrada nenhuma imagem religiosa, diferente dos hindus que têm um monte de imagens de deuses e santos. Os cristãos também têm pinturas e estátuas de Cristo e os católicos usam as imagens extensivamente.

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás imagem nem semelhança alguma do que estiver acima no céu, nem na terra. Não te inclinarás ante elas e nem lhes renderás culto; porque Eu Sou YHWH יהוה teu Deus...” (Deuteronômio 5)

Muitos budistas também se inclinam diante de estátuas de Buda e em algumas seitas do Budismo as imagens de deuses, espíritos, e etc., abundam.

Recentemente estive vendo um vídeo sobre o Budismo japonês, o Zen, que é a versão japonesa do Budismo Chan da China. O interlocutor estava entrevistando um monge em seu templo e notou que não havia nenhuma estátua ou imagem do Buda lá, diferentemente do que é comum nos templos budistas e perguntou ao monge por que. O monge respondeu:

“As pessoas que não entendem Buda precisam de Buda, enquanto que aqueles que entendem não necessitam de Buda”.

Por “Buda” quer dizer estátuas do Buda, assim como um objeto ao qual se dirige ou foca adoração ou culto. A palavra buda significa iluminado e mesmo sendo o Buda original um indiano chamado Siddhārtha Gautama Shakyamuni, através dos séculos houve muitos budistas que conseguiram a iluminação e eles também são chamados de budas. Mas a palavra também se refere a um estado de ser chamado “natureza buda” similar aos cristãos protestantes que falam do “cristo interno”.

Disse em outras ocasiões que o conceito que temos de Deus é muito importante e determina a classe de entendimento possível. Se pensarmos em Deus em termos materiais, como uma pessoa quer seja ali em cima ou encarnada, estamos limitando a amplitude de nosso entendimento e nossas possibilidades. Nossas possibilidades espirituais estão conectadas com o conceito que temos de Deus. Lembre-se que a solidez de nosso corpo, assim como do mundo, é uma ilusão. O cérebro, como tudo material, é maleável, se expande e se contrai segundo nossa intenção ou foco, isto é, decisões nossas (como temos falado extensivamente em outras ocasiões, não podemos tomar decisões reais se nos identificamos com o cérebro – não somos o cérebro). Se focarmos nossa atenção e “amor” em uma estátua ou imagem de qualquer forma, o cérebro se contrai, encolhe-se, sua amplitude de entendimento se estanca no material e não há forma de ver a Realidade ilimitada, um universo além do universo material.

Agora, isso não significa que devemos julgar, ou ainda pior, ter ações violentas contra as pessoas que estão cometendo o erro de adorar “ídolos”, imagens religiosas. Mesmo que suas ações os estejam limitando, suas intenções são boas. Eles amam, de sua forma, a Deus mesmo que os benefícios sejam limitados. Tudo é ciência. Tudo é energia, vibrações. Adoração dessa forma não produz a conexão vibratória necessária para o crescimento da alma, entretanto, é um passo em direção do caminho reto – não julguem.

Não se esqueça do quão difícil é dirigir a atenção ao “nada”, de pensar no Deus invisível. Todos experimentamos a atração das imagens religiosas, temos que ser honestos, também caímos nesse erro e continuamos cometendo-o. Por isso tenho exigido prestar atenção ao corpo. As imagens religiosas produzem uma sensação emocional que é diferente da sensação do amor real e da conexão divina. Vocês têm que experimentar a diferença.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O coração do homem é um instrumento musical


Por Mestre Mohammad Abdullah

O coração do homem é um instrumento musical, contém uma música grandiosa. Adormecida, mas está ali esperando o momento apropriado para ser interpretada, expressada, cantada, dançada. E é através do amor que o momento chega.” 
Yalaluddin Rumi (1207-1273)

Quando dizemos “coração” nos referimos a um aspecto ou parte da alma, o ser real mais profundo do ser humano. O coração é a conexão com o Divino. É através do coração que Deus nos guia. O coração é também o mais distante do ser humano, “esperando o momento apropriado para ser interpretado...”, o coração real está oculto pelo ego, a imagem de ser, nossas ideias de quem somos, ideias equivocadas. Nós pessoas na busca de Deus, ou melhor, da conexão com Deus, estamos continuamente lutando contra o ego, o egoísmo e os impulsos negativos, mas também há práticas que realizamos para fazer que essa conexão também funcione para queimar o ego e a negatividade.
                                                                                            
Yalaluddin Rumi fala do amor. O que é o amor? Não são as emoções sentimentais que comumente são confundidas com o amor e não são os impulsos hormonais que conduzem a grandes problemas na sociedade humana. O amor é uma frequência divina através da qual Deus nos guia. O amor é a ausência do egoísmo – mais ego, menos amor; menos ego, mais amor, mais conexão com a frequência divina e o amor de Deus.

Tudo é energia. Aqui no mundo material, o que parece sólido na verdade não é, é energia em sua forma mais densa que parece sólido por nossos sentidos físicos, todavia tudo está composto de vibrações em movimentos contínuos. Devido a muitos fatores internos e externos, do presente e do passado, as vibrações no ser humano estão desequilibradas, o corpo é um emaranhado de vibrações, um caos de energia. Mas o corpo também é um condutor de energia, o que pode ser bom ou mau, dependendo das influências vibratórias externas com que nos conectamos (que permitimos nos influenciar).

As práticas que os buscadores da verdade usam desde os princípios dos tempos sempre foram de natureza vibratória – a palavra em formas de dhikr (nomes de Deus, mantra), o canto, bem como a música sagrada. A música e a voz muitas vezes em conjunto com o movimento físico, a dança sagrada, o yoga e outras formas de “exercício” físico se encontram em todas as partes do mundo. A música do coração e o movimento consciente trabalham para equilibrar as forças, as energias, dentro do corpo, assim como sintonizá-las com frequências positivas externas. Como um corpo são [saudável] combate a enfermidade quando as energias internas estão equilibradas, o corpo energético rejeita influências negativas e luta naturalmente contra o ego tornando nosso trabalho espiritual mais fácil.

O coração espiritual a que os místicos se referem não é simbólico, é uma realidade tangível, e, tampouco é totalmente distinto do coração físico. O coração físico reflete, de algumas formas, a condição espiritual do coração espiritual, ou seja, refletem-se mutuamente.

É óbvio que o corpo é afetado por sons (vibrações). Com a música o corpo se move, certos sons nos irritam e outros nos tranquilizam. O corpo físico e o corpo energético também se refletem mutualmente, dessa forma a música, a voz e o movimento físico corretamente praticado nos beneficiam tanto física como espiritualmente.

O coração é um instrumento musical, seu ritmo reflete nosso estado espiritual, é um instrumento do amor. Cuidar de sua saúde é um trabalho espiritual, um passo à conexão com Deus.

Raios cósmicos e raios divinos


Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari

Os raios cósmicos são partículas altamente energéticas que são aceleradas a velocidades próximas a da luz e que chegam ao nosso planeta após propagar-se pelo espaço. Os raios cósmicos procedem de fenômenos astrofísicos tais como fulgurações solares ou exposições de supernovas.” (de um dicionário na Internet)

Os raios cósmicos galácticos [que] estão bombardeando a Terra continuamente, chegam de longas distâncias no universo, não são raios, mas partículas pequeníssimas que penetram a Terra e tudo na Terra, incluindo a nós. Neste momento e a todo instante estas partículas estão passando através de nossos corpos. Não nos afetam adversamente porque seu poder diminui ao passar pela atmosfera.

Existe outra forma de “raios cósmicos” que podemos chamar Raios Divinos. Esses raios são as bênçãos de Deus, no idioma tradicional das religiões, mas isso soa algo metafórico quando na verdade estamos falando de realidades tangíveis. Essa força divina está, em cada momento, caindo sobre [nós e tudo quanto existe]; conhecimento das realidades da existência, de Deus e de tudo. Como disse muitas vezes, Deus é dar e está dando-nos continuamente, mas não aprendemos a receber – nossa função é receber.

Por que não recebemos, por que não somos sábios se todo esse conhecimento está [disponível] para pegá-lo? Porque estamos todos cheios de nós mesmos e não há mais espaço. O corpo é um condutor de energia, mas as redes estão bloqueadas e a energia não pode passar.

Quando se fala em benção (ou baraka em árabe) é comum pensar que uma benção é o que Deus lhe da quando você faz algo bom, faz uma boa obra ou é um bom (boa) menino/a. Mas não é assim, há uma chuva de bênçãos divinas caindo sobre [nós] (Raios Divinos) em todo momento, todo o tempo. Quando estamos em uma condição adequada, por ser bons/boas meninos/as, por praticar boas obras, por nos limpar de negatividade, por tentar seguir as instruções dos profetas, as bênçãos nos penetram e atraem “boa sorte”. Outra vez vemos a chave de nosso caminho até “o reino de Deus”, conhecimento e livre arbítrio – temos que conhecer a verdade e com força de vontade, segui-la.

É como Jesus disse no evangelho:

"Um semeador saiu para semear. Ao espalhar a semente, uma parte caiu junto ao caminho; foi pisoteada e os pássaros a comeram. Outra parte caiu sobre as pedras e quando brotou as plantas secaram por falta de umidade. Outra parte caiu entre espinhos que ao crescerem junto com as sementes as afogaram. Mas outra parte caiu em bom terreno; então brotou e produziu uma colheita de cem por um." (Lucas 8:4-8)

Nossas ações, ou seja, nossas decisões e os resultados tangíveis de nossas decisões, formam a natureza de nosso corpo tanto físico quanto energético e isso determina nossa relação com Deus. Se nossos corpos (terra) são duros ou rochosos, os Raios Divinos não penetram, se nos ocupamos de atividades negativas e/ou frívolas, ou com pessoas de mau caráter, nossos corações rejeitarão as bênçãos de Deus.

TUDO NA VIDA COMEÇA COM PENSAMENTOS. PARA EVITAR COMETER ERROS, AÇÕES NEGATIVAS, PARA SER UM (A) BOM (BOA) MENINO/A, TUDO COMEÇA COM NOSSOS PENSAMENTOS. TEMOS QUE TIRAR TODOS OS PENSAMENTOS NEGATIVOS DA MENTE, EVITAR SENTIMENTOS NEGATIVOS DA MENTE E DO CORPO E TRABALHAR CONTRA EMOÇÕES NEGATIVAS. TODO PENSAMENTO, SENTIMENTO E EMOÇÃO, DE UMA FORMA OU OUTRA, SE TORNAM REAIS, MATERIAIS, QUE IMPACTAM NA CONDIÇÃO DE NOSSOS CORPOS FÍSICOS E ENERGÉTICOS.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Quem é o culpado?


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

“Da na mesma que advirtas ou não aos infiéis: não crerão”.

“Allah selou seus corações e ouvidos; uma venda cobre seus olhos e terão um castigo terrível. Há entre os homens aqueles que dizem: «Cremos em Allah e no último Dia», mas não creem. Tratam de enganar a Allah e aos que creem; mas, sem dar-se conta, só enganam a si mesmos. Seus corações estão enfermos e Allah lhes agravou sua enfermidade. Terão um castigo doloroso por haver mentido.” (Alcorão 2: 6-10) (da tradução: “O Alcorão em Espanhol Mexicano”)

Esta é mais ou menos a tradução mais comum destes ayats do Alcorão e a primeira vista podem provocar confusão e perguntas sérias. Mas antes de tratar dessas dúvidas vamos ver uma tradução um pouco melhor.

“EM VERDADE, aqueles que insistem em negar a verdade – tanto faz que lhes advirta ou que não lhes advirta: não crerão. Deus selou seus corações e seus ouvidos, e sobre seus olhos há um véu: espera-lhes um tremendo castigo. E há aqueles que dizem: “Cremos em Deus e no Último Dia”, enquanto que [na verdade] não creem. Pretendem enganar a Deus e aqueles que chegaram a crer – mas só se enganam a si mesmos, e não se dão conta. Em seus corações há enfermidade e por isso Deus deixa que aumente sua enfermidade; e lhes espera um penoso sofrimento por suas contínuas mentiras.” (Alcorão 2:6-10) (Tradução de Muhammad Asad) al-kafirum (“aqueles que negam a verdade”).

O que confunde e perturba as pessoas é primeiro o enunciado: “Deus selou seus corações e ouvidos, e sobre seus olhos há um véu”. Parece que é Deus que é culpado por essas pessoas negarem a verdade. Então, “espera-lhes um tremendo castigo”, logo Deus os faz pecar e então os castiga pelos pecados que Ele mesmo provocou.

Não tem sentido. Se algo no Alcorão parece não ter sentido, você tem duas opções: crê-lo cegamente, tornar-se fanático ou usar o cérebro, o intelecto, investigar e analisar.

Número um: antes que mais nada, é o conceito errôneo da natureza ou realidade sobre o que é Deus. Com o conceito correto é impossível mal entender esse tipo de expressão no Alcorão (ou qualquer [outro] livro sagrado). La ilaha il-lallah, não há deus, só Allah. Esse, o Kalim-I Tawhid, que é também muitas vezes mal traduzido e entendido, é o ponto de partida. Não existe um “deus”, uma pessoa suprema, uma entidade, um ancião lá em cima, separado de nós, outorgando prêmios e castigos segundo nossa conduta, só existe Allah e Seu Sistema. Allah não é uma entidade, Ele é a Energia Intrínseca da existência, a matéria consciente básica de tudo, os nomes de Allah são bytes de programação que faz com que tudo funcione.

O Alcorão é um livro de ciência. Os ayats acima explicam como o Sistema funciona. As pessoas que “insistem em negar a verdade” ou, como diz em outra tradução, ignoram a realidade, provocam reações físicas, emocionais e espirituais, sua cegueira e ignorância aumenta por suas próprias ações. Deus não faz nada, Allah é o Sistema, Allah é a Realidade, tudo é causa e efeito ou Karma, todo o Sistema é baseado em Karma – nós somos a causa de tudo o que nos acontece.

“Em seus corações há enfermidade, e por isso Deus deixa que aumente sua enfermidade”. Se você está doente e não faz nada para tratar a doença, o que acontece? A doença piora, é pura ciência, é o Sistema. Se entendermos a realidade de Allah, tudo tem sentido.

Não devemos ler o Alcorão como uma novela, devemos lê-lo como um texto de ciência ou medicina - leia uns versículos, pare e pense, medite, analise. Se há dúvidas temos que pesquisar, checar outras traduções, investigar os significados das palavras-chave. Mas, se você realmente seguir com o programa, com o dhikr em todas as suas formas, com a meditação, com a contemplação, com a auto-observação e indagação, assim como com a conduta reta, chegará um dia em que seu coração lhe explicará tudo.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O profeta Abraão e a análise pessoal



Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

“E, EIS ENTÃO que Abraão falou [assim] a seu pai Asar: “Acaso tens os ídolos como deuses? Em verdade, vejo que tu e teu povo estais evidentemente extraviados!”

E demos [assim] para Abraão [sua primeira] visão do magnífico domínio [de Deus] sobre os céus e a Terra – para que fosse dos que possuem convicção interior.

Quando veio sobre ele a escuridão da noite, viu uma estrela [e] exclamou: “Este é meu Senhor!” – mas quando se ocultou, disse: “Não amo o que se desvanece”.

Logo, quando viu a lua sair, disse: “Este é meu Senhor! – mas quando se ocultou, disse: “Certamente se meu Sustentador não me guia, serei sem dúvida dos que se extraviam!”.

Então, quando viu o sol sair, disse: “Este é meu Senhor! Este é o maior [de todos]!” – mas quando este também se ocultou, exclamou: “Povo meu! Certamente estou longe de atribuir, como vós, divindade a Deus! Certamente me voltei inteiramente a Aquele que criou os céus e a Terra, afastando-me de toda falsidade; e não sou dos que atribuem divindade a algo junto com Deus.” (Corão 6:74-79)

Geralmente estes ayats são entendidos como um aviso contra associar algo com Deus, um costume de muitas sociedades no passado e, segundo estes ayats, do próprio pai de Abraão. Ele [Abraão] viu incríveis criações de Deus, as estrelas, a lua e o sol e sua primeira reação foi comparar essas criações com Deus (o Rabb em árabe). Mas, o que fez? Ao ver que essas coisas não eram duradouras, permanentes, que se desvaneciam, concluiu que não podiam ser o Deus verdadeiro, permanente, sem limites, sem começo e sem fim.

Em tudo o que existe só Deus é permanente e imutável. Deus, com qualquer nome, é a energia consciente básica de todo o demais, como escrevi em outro escrito:
Allah é a fonte de energia que sustém o universo. Se Ele cortasse a corrente por um segundo, tudo desapareceria. Tudo depende de Allah, não somos nada, não temos poder, conhecimento, nada. Só com esse entendimento podemos terminar o reino do ego e desenvolver a humanidade necessária para romper o apego a este mundo e conectarmos com o Verdadeiro Poder.”

Mas há algo aqui de igual importância que Abraão (a paz seja com ele) nos mostrou, algo imprescindível, uma prática que todos devemos estar fazendo continuamente em nossas vidas. Abraão usou seu cérebro, ele analisou a situação e baseado nos fatos e no seu conhecimento chegou até a verdade. Se tivesse ficado com apenas as primeiras aparências sua vida teria sido totalmente diferente.

Deus nos deu um cérebro e consciência por um motivo. O Corão diz uma e outra vez: “considere isso”, “medite nisso”, “reflita sobre isso”. Allah, Deus, Yahveh, Brahma, está dizendo: “pensa, analisa, use sua mente”.

Para fazer isso, para pensar, para usar a mente, temos que conhecer a mente e isso também implica conhecimento de tudo o que impede de entender e conhecer a mente, isto é, as emoções, pensamentos negativos, medos, desejos, gostos e desgostos e tudo o que está acontecendo dentro [no interior, interiormente]. Observando e analisando a tudo.

“O que significa dhikr (zikr)? Dhikr significa lembrança, nossa prática é dhikr Allah, lembrança de Allah. O que é Allah (Deus)? É a energia consciente que sustêm a existência. Onde está essa Força Divina? Dentro de tudo o que existe e isso nos inclui, Deus reside em cada célula dos nossos corpos. Muito embora, geralmente, o dhikr se refira à meditação na qual repetimos os nomes de Allah sozinhos ou em grupo e também durante o dia repetindo frases como ‘Alhamdulillah’, ‘Subhanallah’, ‘Bismillah’, ‘Mashallah’, e etc., mais importante [ainda] – dhikr significa lembrança! Lembrança implica consciência, estar alerta, desperto. Onde está Deus? Em nosso corpo, cérebro, olhos, no ar que respiramos...”

“TRANSMITE [aos demais] o que te foi revelado desta escritura divina, e seja constante na oração, pois, certamente, a oração refreia [ao homem] das ações desonestas e de quanto atenta contra a razão; e a recordação de Deus (dhikr) é na verdade o maior [bem]. E Deus a sabe tudo o que fazeis.” (Corão 29:45)

Você sente a Allah em todo o seu corpo? Para realmente sentir a Deus em nós mesmos temos que reconhecer a parte ou aspecto de nós que não é Deus. “Conheça a si mesmo e conhecerá a Deus”, disse o Profeta (a paz seja com ele). Conhecermos a nós mesmos significa conhecer tudo. Vivemos uma dualidade. Nosso núcleo é a alma, uma faísca da essência de Deus. Para chegar a conhecer essa parte de nós, a única parte real, temos que primeiro conseguir conhecer e dominar a parte que não é real, a parte criada pelas influências mundanas, pela família e situações da vida, da sociedade e cultura em que nascemos, nossos medos e apegos materiais assim como também as inclinações internas herdadas, o DNA. Esse é o ego, uma entidade independente de nossa verdadeira realidade, uma personalidade falsa que nos desviará do caminho.

Sobre isso escrevi:

“O ego, uma ilusão de quem somos, uma imagem de ser, uma falsidade criada pelo medo e influências tanto externas como inclinações negativas interiores, produz uma contração do mundo do indivíduo – uma solidez física e um encolhimento do mundo da pessoa. Essa contração material inibe o crescimento do corpo energético, o corpo que vamos habitar na próxima etapa de nossa existência. Se o corpo energético não se desenvolve neste mundo e nesta vida pode ser que se estanque para sempre. Para continuar o desenvolvimento da alma temos que alcançar um grau de desenvolvimento aqui neste mundo primeiro. Aqui temos o livre arbítrio para escolher. A cada momento a vida nos da opções para escolher”.

Escolher! Temos livre arbítrio para escolher entre o ego e Deus. Mas primeiro temos que reconhecer o que é o ego e o que é Deus, ou seja, qual parte de você está chamando? Onde está o seu foco – no eu, eu, eu, ou em Deus? Além de Deus estar em nós mesmos, em nossos corpos, está também em todos os demais – interatuar com o próximo é atuar com Deus indiretamente – cuidado.

O dhikr é estar alerta, observando e analisando-nos, estando conscientes dos pensamentos e emoções: como são e de onde vem? Quanto mais pudermos alcançar um conhecimento do que não é nossa realidade, isto é, do ego, mais nossa realidade, o ser real, começa chegar à superfície, à consciência, mais nossas vidas serão guiadas por Deus ao invés de pelo ego.

Temos que usar nossa habilidade mental para observar e analisar tanto a nós mesmos como à vida e nossa parte nela.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Apagar sua história pessoal - Parte 2: O apego, a escravidão e a liberdade


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

Escrevi:

“Uma das coisas que impede nosso avanço espiritual é o “puxão” do passado. Todas as coisas que essa pessoa que “éramos”, a pessoa dos corpos anteriores, a pessoa que cremos que eram nós mesmos, suas ideais, ações, façanhas, amigos, filhos, esposos/as, pecados, boas obras, tudo são como laços fixos, presos a todas essas semirrealidades da outra pessoa através da qual nossa alma entrou e saiu. Até que cortemos esses laços, continuaremos estancados, paralisados e passando por corpos cada vez mais sólidos e sujeitos a todos os efeitos da vida material assim como do ego, a personalidade falsa, que nos têm como prisioneiros em uma fantasia.”

Também escrevi recentemente:

“Não estamos aqui na Terra para acumular coisas, não estamos aqui para ser exitosos e importantes... estamos aqui para observar, experimentar, viver, amar (não ser amado, mas amar), ser e conhecer Allah que está escondido sob a superfície de todas as coisas. Em todas as tradições espirituais nos advertem contra o apego às coisas, a não sermos controlados pelo apego à materialidade. Pouca gente faz caso, nem entende.”

A primeira parte de cima se refere ao fato de que nossa desconexão do passado é mais que uma forma de pensar ou de controlar o cérebro e as emoções, mas também uma realidade, que o tempo não flui como água, mas é uma série de fotogramas que dão a ilusão de movimento, de continuidade. Realmente não somos as pessoas do passado. O universo é como um holograma e nós também. Vivemos em um mundo multidimensional, mas nosso estado atual não nos permite ver tudo o que está acontecendo, não podemos ver sem trabalho, mais que uma ranhura da realidade. Por isso a maioria da humanidade carrega sobre si tudo o que fez, pensado e sentido nos fotogramas do passado, crendo que essas pessoas eram elas mesmas. O que nos conecta com nosso passado é karma, ao crescer/mudar o corpo (uma sucessão de corpos que habitamos) o corpo acumula efeito dos fatos (que inclui pensamentos e emoções) do corpo anterior e assim o karma nos afeta em nosso estado atual porque o corpo reflete cada pensamento bom ou mau assim como as emoções produzem efeitos tanto físicos quanto psíquicos.

No segundo parágrafo reproduzido acima falamos do apego. Como diz, o apego é abordado por todas as tradições espirituais como um obstáculo primordial na senda espiritual. Mas, o que significa o apego? Obviamente vem da palavra pegar. Imagine todas as coisas do quarto voando em sua direção, como se você fosse um imã e estivesse coberto de todas as coisas ao seu redor. Você poderia se mover? Isso é exatamente o que está acontecendo com quase todas as pessoas, não é possível ver as coisas, mas sim, estão pegas (coladas) às pessoas. Mas se não é físico, o que está pego (colado) e como?

As coisas estão pegas (coladas/grudadas) ao corpo “físico”. Por que a palavra físico está entre aspas? Porque nossa realidade é outra, um corpo sutil ou energético ou uma consciência que se move de corpo em corpo. “De corpo em corpo” neste caso não estou falando da transmigração ou reencarnação, mas do corpo físico deste momento ou período de tempo para outro corpo físico nesta mesma vida. Depois de alguns anos não temos nem uma única célula de antes, o corpo é totalmente novo, parece mais velho, mas na realidade é como outra nova existência – cada momento é um pacote único. Trate de imaginar a sua realidade, o seu ser real ou alma, como uma nuvem passando de um corpo para outro continuamente. Os corpos são o que acumulam o efeito de karma e isso é o que vamos experimentar bom ou mau. E esse é o sofrimento, os estados mentais e emocionais desagradáveis que experimentamos – os efeitos dos acontecimentos do passado, não só pelo que fizemos, mas também pelas experiências da vida, ou vidas. O único alívio ou salvação é desconectarmos do passado – apagar nossa história pessoal.

É primordial manter em mente, estar consciente da, a razão pela qual estamos aqui na Terra. Estamos aqui como parte de um processo de crescimento espiritual. Tudo aqui é projetado com esse fim. A vida e tudo o que acontece tem um propósito, há uma razão para tudo o que acontece. Se não entendemos isso ou o esquecemos, nosso passado cria impressões no corpo e conduz ao sofrimento e a um grau de estancamento espiritual. Tudo reside na mente. A pessoa mediana é formada por experiências de sua infância e vida em geral, seu passado – é pura psicologia básica. Mas mudamos a atitude e vemos o passado, nossas experiências, boas e más, como parte de um processo e que estamos progredindo por ter experimentado tudo isso (ainda que não saibamos completamente as razões) mudamos toda a situação. Temos que entender o que aconteceu, ocorreu ao corpo que habitamos temporalmente – não somos esse corpo e nem é o mesmo corpo que habitávamos no passado. Sofremos por identificarmos com o corpo quando na realidade somos outro.

O que nos aconteceu há dez, vinte, trinta ou mais anos ocorreu a outro corpo e fisicamente já não existe. Sua única existência nós estamos criando na mente, uma irrealidade que produz dores físicos reais. É uma decisão que tomamos.

A única realidade é o momento presente. Sentir o momento é viver. Escolher recordar o passado como uma realidade nos arrasta para baixo, nos faz pesados e tira a sensação de vida do corpo – mata o momento.

Siddartha (o Buda) descobriu que nosso hábito de fixar-se na mera aparência de nosso sonho do mundo relativo, pensando que ele é realmente existente, nos joga num ciclo interminável de dor e ansiedade. Estamos num sonho profundo, hibernando como um bicho num casulo. Temos tecido uma realidade baseada em nossas projeções, a imaginação, esperanças, medos e delírios. Nossos casulos se tornaram muito sólidos e sofisticados. Nossas imaginações são tão reais para nós que estamos presos no capuz. Mas podemos nos libertar simplesmente por entender que tudo isso é nossa imaginação.”
Dzongsar Khyentse

“[...] conhecereis a verdade e ela vos libertará” (João 8:32). A verdade é este momento, nenhum outro momento é a verdade. Só se nos desconectarmos do passado poderemos ser livres. Recordar a verdade é a maneira de ficarmos presentes.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Apagar sua história pessoal


Por Sheik Mohammad Abdullah Ansari

O xamã don Juan Matus dos livros de Carlos Castaneda disse que devemos apagar a nossa história pessoal. Ele tem bons motivos para dizer isso e concordo, mas mais que isso, me fez pensar, ou melhor, me ajudou a esclarecer um tema que quero tratar faz tempo. Disse “tempo”? Exatamente, o tempo – o grande enigma; ou, talvez você não chegou a pensar no tempo desta maneira, um mistério. Você já se perguntou o que é o tempo?

O mundo e o universo são como um holograma assim como também nós somos. Tudo existe devido a pulsações de energia que se originam da Fonte Energética chamada Allah, ou Deus (Deus, Yahveh, Brahma, etc.). Essas pulsações são constantes e dão vida a tudo, se Deus deixasse de enviar essas pulsações tudo desapareceria imediatamente. Desligados também nós desapareceríamos.

Acreditamos que o tempo flui como um rio, mas não é assim, o tempo é uma série de “agoras”, um agora após outro agora, como folhas ou páginas de um livro. Cada momento é outra coisa, não exatamente uma continuação do momento anterior. Vemos uma foto nossa de dez, vinte, trinta, ou no meu caso cinquenta anos, ou mais, atrás; somos essa pessoa? O passado é o passado? Nem as células do corpo são iguais de um momento para outro, o corpo está mudando continuamente, nem uma célula do corpo fica igual. Então, fisicamente a pessoa da foto não é quem somos. E os pensamentos, atitudes e ideais daquele tempo, são iguais como as deste momento? A única coisa que fica igual de um tempo para outro é o corpo sutil, energético, a alma que se move como vapor de um corpo para outro, de um momento para outro. A única realidade é o corpo sutil. Até que estejamos conscientes desse corpo, a alma, não somos realmente reais. Nada realmente é real, apenas semirreal. Este mundo material não é real, mas é sumamente importante, este lugar ou estado de energia densa que conhecemos como a vida material terrestre é como uma ponte obrigatória que temos que cruzar para chegar, depois de uma viagem labirinto, ao cumprimento do desenvolvimento da alma e a unidade com a energia divina.

Voltemos ao nosso tema, de apagar nossa história pessoal. Uma das coisas que impede nosso avanço espiritual é o “puxão” do passado. Todas as coisas que essa pessoa que “éramos”, a pessoa dos corpos anteriores, a pessoa que cremos que era nós mesmos, suas ideais, ações, façanhas, amigos, filhos, esposos/as, pecados, boas obras, tudo são como laços fixos, presos a todas essas semirrealidades da outra pessoa através da qual nossa alma entrou e saiu. Até que cortemos esses laços, continuaremos estancados, paralisados e passando por corpos cada vez mais sólidos e sujeitos a todos os efeitos da vida material assim como do ego, a personalidade falsa, que nos têm como prisioneiros em uma fantasia.

Só há uma saída, fazer uma conexão com Deus por meio do dhikr, da meditação, de conduta reta e da consciência (auto-observação). Temos que adquirir consciência da mente, intenção desperta, tomar decisões com a mente, com a consciência do coração. Continuaremos, inshallah.

Expectativas, decepções e aceitação

Caderno de trabalho sufi Por Mestre Mohammad Abdullah Ansari Tudo o que vemos, isto é, este mundo material e as coisas que lhe s...