Por Mohammad Abdullah Ansari
Sayyidina Hakeen Tirmidhi em seu livro Nawaadirul-Usool narra que Sayyidina
Zakwaan (a.s.), um companheiro do
Profeta (s.a.w.s.), disse: “Não era
possível ver a sombra do Profeta (s.a.w.s.) nem no brilho do sol e nem na luz da
lua”.
Em seu Masnavi,
Mawlani Yalaluddin Rumi escreveu: “Não apenas o Profeta (s.a.w.s.), mas inclusive
um servo ordinário que chegar à etapa de mortalidade interior (baqa), sua sombra desaparecerá, como a
do Profeta”.
Este mundo é uma manifestação de Deus. Você vê o mundo
assim? Este mundo toma a forma da percepção de cada um, tanto perceptiva quanto
fisicamente, isto é, tangivelmente, o mundo toma a forma dos desejos e dos níveis
espirituais da conglomeração das pessoas em cada parte, assim como no mundo
todo. Ainda assim, mesmo que o mundo reflita o nafs/ego das pessoas comuns, muito longe do padrão projetado por
Deus, um indivíduo pode chegar a ver a realidade detrás de tudo. Na verdade o
mundo é amorfo e mutável. Não é tão sólido como parece. A solidez das coisas e
sua rigidez dependem da condição do ego da pessoa. Quanto mais você acredita
neste mundo como o fim de tudo e como a verdadeira realidade e quanto mais
estiver absorto em si mesmo, menor e mais duro será o seu mundo.
O que é a religião? A verdadeira religião é a ciência – como
as coisas funcionam. De fato, a ciência física não é mais do que uma extensão
da ciência “espiritual”. Na verdade não há separação entre “espiritual” e não-espiritual,
tudo é um. Uma ação desencadeia uma consequência tanto no mundo de energia
densa, “sólido” e visível como no mundo de energia menos densa de ações,
pensamentos e atitudes.
Por que o Profeta Muhammad
Mustafa (a paz seja com ele) não tinha sombra? Porque não tinha ego.
O mundo muda tangivelmente por nosso estado espiritual,
nossas percepções, desejos e crenças e, além de ser um obstáculo no progresso e
evolução espiritual, o ego congela o mundo do indivíduo, o faz encolher,
bloqueando a visão das realidades mais profundas atrás de tudo supostamente “material”.
Tudo o que você vê no mundo tem só uma realidade relativa. Ver sua realidade
essencial só é possível com a dominação do nafs/ego.
Abraham Abulafia (1240
– 1291), um grande cabalista disse: “A vida normal da alma está encerrada nos
limites determinados por nossas percepções naturais e emocionais, e enquanto
esta vida estiver plena destas, encontrará extremamente difícil perceber a
existência das formas espirituais e das coisas divinas. Por conseguinte, o
problema é encontrar um caminho para ajudar a alma a perceber além das formas
da natureza (o mundo material) [...]; a solução é sugerida por este antigo
adágio ‘quem está cheio de si mesmo não tem lugar para Deus’. Tudo aquilo que o
eu natural (o ego) do homem ocupa deve ou bem desaparecer ou bem transformar-se”.
O ego é uma criação de desejos e medos, não têm uma
realidade intrínseca; sua existência é alimentada pela crença neste mundo e
nesta vida como fins em si, como se fossem a meta da existência. É um círculo
vicioso, o ego se criou com o esquecimento do Criador durante o crescimento do
indivíduo e a crença no ego como uma realidade faz a percepção do indivíduo ver
o mundo cada vez mais sólido e permanente – o oposto da realidade. A realidade
do mundo é um redemoinho de energia e mudanças constantes. Sintonizar com Deus
por meio da lembrança constante Dele diminui a crença no nafs/ego e abre os olhos internos para ver a verdadeira realidade
energética do universo e assim ver a Deus em tudo.